Como a ciência está a trabalhar para reverter (ou parar) o envelhecimento
O envelhecimento tende a assustar quem começa a sentir os seus efeitos, mas para Andrew Steele tornou-se uma fonte de curiosidade. O autor do livro Eternamente Jovem - Como a Ciência Planeia Travar o Envelhecimento encontrou num gráfico, que descrevia como o risco de morte de um ser humano duplica a cada oito anos, a razão para se tornar biólogo e estudar o fenómeno. Estes oito anos são bastante constantes em qualquer lugar do mundo, o que pode significar a existência de um processo de envelhecimento generalizado.
Prevenir ou reverter o envelhecimento é o que os biólogos estão a tentar fazer nos seus laboratórios, para de alguma forma diminuir a angústia que algumas pessoas possam sentir. "Se tratarmos uma única doença, se desenvolvermos tratamentos mais avançados para o cancro, por exemplo, podemos curar as pessoas desse cancro mas elas continuam frágeis. Vão continuar a ter problemas de memória e tudo o que está associado ao envelhecimento. Mas se tratarmos o processo de envelhecimento em si, podemos abordar um espectro de coisas diferentes. Espero que possamos tornar as pessoas mais saudáveis, mais felizes, e reduzir a dor por mais tempo possível", disse Andrew Steele em conversa com o DN. O objetivo final destes tratamentos é aumentar o tempo de vida passado com boa saúde, pois não valerá a pena viver até aos 120 anos se os últimos 40 anos de vida são passados num lar. Segundo a plataforma Our World in Data, em 2017 a população mundial perdeu 853 milhões de anos saudáveis devido a doença.
Os cientistas estão a estudar todos os aspetos das células, como o ADN, a mitocôndria, as células estaminais, o sistema imunitário, para compreender tudo o que está por trás do envelhecimento em termos biológicos. Alguns tratamentos antienvelhecimento estão apenas a ser testados em animais, mas outros já estão na fase de testes em humanos. Ainda não se sabe o que poderá acontecer com estas tecnologias e o que está para vir, "mas enquanto não forem testados em humanos não sabemos qual a dimensão que estes tratamentos podem vir a ter", afirma Andrew Steele. O que torna este físico otimista é o facto de, hoje em dia, a tecnologia médica andar a uma velocidade incrível, o que pode permitir que os tratamentos antienvelhecimento se desenvolvam rapidamente.
Andrew Steele considera que estes tratamentos não devem ficar apenas na esfera dos mais ricos, pelos benefícios económicos que atrasar o envelhecimento pode trazer. "Há uma estimativa feita de que os benefícios de atrasar o envelhecimento por apenas um ano para a economia americana seria de 37 triliões de dólares." Entende que os mais ricos podem ser um incentivo para o desenvolvimento desta indústria de longevidade, equacionando: "Imaginemos que és o Jeff Bezos. Não vais querer ser a primeira pessoa a tomar o primeiro tratamento experimental que uma empresa desenvolver. Quererás ser a centésima pessoa, depois de o tratamento ter sido extensivamente testado em outros indivíduos." Pode ser o impulso necessário para desenvolver uma indústria que pode fazer testes de segurança e de ética extensivos de forma a que estes medicamentos sejam seguros.
Apesar de ser uma questão abordada no livro, ele não sabe se o envelhecimento deve ser considerado uma doença. Em termos pragmáticos, entende que deveria ser feito esse estudo, pois os tratamentos poderiam ter autorização dos reguladores dos medicamentos, como a Agência Europeia do Medicamento ou a Food and Drug Administration. No entanto, reconhece que, em termos sociais, seria algo difícil de implementar. "Não tenho a certeza se quero dizer a toda a gente que tem mais de 50, 60 anos que está doente só porque viveu uma determinada quantidade de tempo." O envelhecimento é uma constelação de mudanças que ocorrem dentro do corpo e que colocam a pessoa em maior risco de ter outras doenças. No entanto, não cai na definição tradicional de doença, como o cancro, por exemplo, e daí a dúvida se a classificação deveria ser feita ou não.
Andrew Steele diz que o objetivo destes tratamentos é serem preventivos, e não paliativos. Por enquanto, estes tratamentos que matam as células senescentes, responsáveis pelo envelhecimento, só estão a ser experimentados em doenças muito graves, como a fibrose pulmonar, por exemplo, em que ocorre cicatrização do tecido pulmonar. "Quando passarmos por várias fases de testes e de experimentar os tratamentos em doenças cada vez menos graves, podemos chegar ao ponto em que os damos a pessoas com mais de 60 anos porque acumularam células senescentes suficientes ao longo da sua vida para funcionar como um tratamento preventivo." Ainda é difícil para os cientistas perceber em que fase da vida é melhor começar esta prevenção, de forma a ter o melhor atraso do envelhecimento com menos efeitos secundários possíveis.
Quantos anos vamos viver, se vamos viver para sempre, ainda não se sabe. Mas a possibilidade de parar o envelhecimento e dar às pessoas mais alguns anos de vida saudáveis, além dos garantidos, começa a surgir dentro dos laboratórios do mundo.
Desassossego
336 páginas
sara.a.santos@dn.pt