O documento que explica como a Cambridge Analytica ajudou a eleger Trump

O jornal The Guardian teve acesso a um documento interno da empresa que mostra quais foram as estratégias utilizadas para direcionar o voto dos norte-americanos
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Uma antiga funcionária da Cambridge Analytica revelou pormenores da estratégia que a empresa britânica terá usado para ajudar Donald Trump a vencer as presidenciais norte-americanas de 2016, usando plataformas digitais como o Google, Snapchat, Twitter, Facebook e YouTube. O documento interno foi apresentado aos colaboradores da empresa após a vitória do republicano, para divulgar as técnicas utilizadas para influenciar os eleitores.

O documento de 27 páginas, a que o jornal The Guardian teve acesso, é uma apresentação que terá sido feita pelos funcionários da empresa que trabalharam na campanha de Trump e mostra as técnicas utilizadas para direcionar mensagens nas redes sociais de forma a chegarem aos eleitores certos e de maneira a favorecer o voto no candidato republicano.

Tratamento intensivo de dados recolhidos em inquéritos e algoritmos desenvolvidos pela empresa foram algumas técnicas utilizadas pela empresa para enviar 10 mil mensagens para públicos diferentes, meses antes das eleições. Segundo a apresentação da Cambridge Analytica, os anúncios foram visualizados milhares de milhões de vezes.

Britanny Kaiser, a antiga funcionária da empresa, contou ao Guardian que o documento foi mostrado internamente na Cambridge Analytic e que todos queriam ver a apresentação: "Antigos clientes, futuros clientes. O mundo inteiro queria ver [o documento]". E só quem assinou um acordo de não revelação do seu conteúdo conseguiu o seu intento.

Nenhuma das técnicas descritas pela empresa britânica apresentação é ilegal, escreve o jornal. Mas, a ser verdade que a Cambridge Analytica acedeu a dados de mais de 50 milhões de utilizadores do Facebook, o debate passa para o plano da segurança nas redes sociais e de que forma os seus utilizadores estão ou não protegidos na era digital.

O documento que é disponibilizado pelo jornal não avança muita informação sobre como os dados dos utilizadores do Facebook foram usados, mas uma das páginas mostra claramente que a empresa "monitorizou constantemente a eficácia das mensagens enviadas para diferentes tipos de eleitores" e que os algoritmos eram desenvolvidos e melhorados para atingir diferentes grupos de eleitores, de acordo com o seu perfil.

A empresa conseguiu ter um "feedback constante sobre os níveis de eficácia em plataformas como o Twitter, o Facebook e o Snapchat".

Foram mostrados anúncios diferentes no YouTube: a localização geográfica dividiu-os em apoiantes e indecisos

Uma outra página mostra como a campanha de Trump usou uma peça primordial de marketing no dia da eleição, e que diz respeito ao aluguer de espaço publicitário na plataforma YouTube. Segundo Britanny Kaiser, a campanha de Hillary Clinton já tinha reservado o espaço na plataforma, mas como acreditava que ia vencer, desistiu da reserva e a Cambridge Analytica terá recebido uma chamada da Google a informar que o espaço publicitário estava disponível.

Até aqui nada de diferente, mas a forma como o espaço foi utilizado mostra a forma como os dados dos utilizadores podem ser usados para moldar a sua opinião - ou intenção de voto. Neste caso, a campanha de Trump mostrou dois anúncios diferentes, de acordo com o tipo de eleitores, segundo a informação geográfica disponível.

Para os eleitores que residiam em áreas "vermelhas", ou seja, onde era mais provável votarem Trump, foi mostrada "uma imagem triunfante do candidato", com conselhos de como poderiam votar. Os eleitores em localizações geográficas com votantes mais divididos (que podiam estar indecisos ou não ser apoiantes de Trump) viam uma imagem diferente: de apoiantes famosos do republicano.

A empresa usou ainda uma nova técnica de publicidade oferecida pelo Twitter, e que foi lançada no início do ano eleitoral, que permitia aos clientes lançar mensagens virais. Os seguidores de Trump eram incentivados a partilhar tweets favoráveis ao candidato usando hashtags pré-definidas.

Pesquisas no Google foram manipuladas através de publicidade paga

Foi usada também a publicidade paga da Google para dar a quem pesquisava determinados temas anúncios de Trump. Por exemplo, um dos slides mostra como a empresa garantiu que os eleitores que pesquisavam as palavras "Trump Iraque guerra" viam resultados de pesquisa pagos favoráveis à campanha. "Controlar a primeira impressão", refere o slide, com uma seta a apontar para um resultado de pesquisa onde se lê: "Hillary votou a favor da guerra no Iraque - Donald Trump opôs-se".

No entanto, neste caso de manipulação do Google, a ex-trabalhadora da Cambridge Analytica referiu esta é um tática antiga e há muito utilizada pela indústria.

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