Comércio tradicional de Lisboa vestido com 'design'
Durante um mês - de 15 de Junho a 15 de Julho - 13 lojas vão expor peças de 'design' para atrair novos públicos. A história dos vários estabelecimentos é contada de forma original: através de representações
O projecto chama-se COMBO e tem um objectivo muito claro: renovar as lojas de comércio tradicional através da arte. O evento não é inédito no País, mas estreou-se este ano em Lisboa, tendo 13 estabelecimentos comerciais centenários aderido à iniciativa. A parceria entre o MUDE (Museu do Design e da Moda) e a EGEAG (Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural), "está a ter um bom feedback e é para repetir". A garantia é de Miguel Honrado, o presidente da EGEAC.
Para este responsável, é uma forma de "revitalizar a Baixa", já que, "começando por inovar o comércio tradicional, chama-se a atenção das pessoas para a riqueza urbana e de todo o património da Baixa". Essa promoção, que integra as Festas da Cidade dura um mês - de 15 de Junho a 15 de Julho - mas visa colher os seus frutos.
Para tal, as sementes estão a ser plantadas por artistas (actores, bailarinos e cantores) que montaram arraiais nas diversas lojas (ver caixa), de que são exemplo a Chapelaria Azevedo e a Retrosaria JR Silva, visitadas ontem pelo DN.
A actriz Sílvia Filipe convida os clientes da centenária chapelaria do Rossio a "escolher o chapéu ideal". Em meia hora, veste a pele de funcionária e desdobra-se em papéis para atrair clientes à medida que vai contando a história desta casa fundada em 1886, por Manuel Azevedo Ruas.
Desde logo ficamos a saber que o dono da chapelaria abandonou o cultivo da vinha devido a uma praga de filoxera e veio de Trás-os-Montes para Lisboa onde se dedicou à venda de chapéus. E como "chapéus há muitos", a funcionária trata de os apresentar ainda que a muito custo, devido à sua gaguez.
Mas nada que a atrapalhe muito, já que conta com toda a sua linguagem corporal para convencer o cliente a levar "o chapéu ideal", que pode ser de três bicos com penas, um mais simples muito na moda nos anos 20, ou ainda um mazantini, como usava a cavaleira chilena Conchita Citrón, a quem presta homenagem na sua interpretação.
Aproveitando a temática da tauromaquia a actriz comove o público/clientes ao cantar A las cinco de la tarde, de García Lorca. Segue-se uma homenagem a Isadora Duncan e a Schubert. É então que entra na loja Eliseu Agostinho para comprar um chapéu. "Esta interacção é interessantíssima", confessa ao DN este fãs de chapéus antes de comprar mais um, até "porque em Angola dão jeito".
Encantada fica também Luísa Sanches, cliente da Retrosaria JR Silva, enquanto durante a aquisição de linhas para ponto de cruz, assiste à exibição da actriz Catarina Requeijo. Na pele de funcionária recorda aos clientes o tempo em que havia filas à porta antes da loja abrir. Enquanto isso, tenta "vender" botões - de metal, de vidro, de pedra, de cabedal -; rendas - de altar, de nylon, de guipour -; ou agulhas - de coser, de crochet, de máquina, ou de esmirna.