Comerciantes preocupados com fecho de hospitais
O Governo pretende encerrar mais três hospitais - Capuchos, São José e Santa Marta - do centro de Lisboa e transferir os serviços para o novo Hospital de Todos-os-Santos, a construir em Chelas.
Em frente ao Hospital dos Capuchos está, desde 1980, a pastelaria Monte Novo. Arménio Correia, a trabalhar ali há quase 34 anos, é perentório na altura de apontar os impactos que o encerramento pode ter: "É uma desgraça total para os comerciantes da zona".
O responsável do estabelecimento diz que a maior parte dos clientes são os trabalhadores do hospital, bem como "os muitos utentes" que ali se deslocam diariamente.
Na zona do Hospital dos Capuchos, no topo da colina, encerrou também recentemente o Hospital Miguel Bombarda - outro dos serviços que será integrado na nova unidade -, serviços do Patriarcado e da Universidade de Lisboa e vários escritórios de empresas com vários trabalhadores, como a Marktest ou a Gillette. "Restam-nos agora alguns serviços que ainda existem no hospital", afirma Arménio Correia.
Apesar das preocupações, o comerciante acredita que o fecho não será em breve, já que este foi um tema de que sempre ouviu falar desde que trabalha na pastelaria. No entanto, "quanto mais tempo levar [o encerramento], melhor", confessa. A sociedade fez um investimento de remodelação do espaço há quatro anos que espera ainda conseguir pagar.
Também Rajnikant Varavan, que trabalha há vários anos na banca de jornais em frente ao Hospital dos Capuchos, diz que se a unidade fechar "a zona morre toda", uma vez que há já "muita coisa a fechar" e, assim, "fechará mais".
Na Colina de Santana, conta, "toda a gente tem medo de perder o emprego", principalmente os comerciantes mais velhos. "Na idade que temos agora ninguém nos vai dar trabalho", lamenta Rajnikant Varavan.
Cecília Vieira, que há 33 anos vive na colina, está solidária com os comerciantes: "O encerramento é muito mau. As pessoas que têm aqui comércio governam-se normalmente com as pessoas do hospital".
À entrada do Hospital de São José, mais próximo do Martim Moniz, à hora de almoço de um dia de semana, o restaurante Violeta está praticamente vazio. O dono diz que a situação já está má e que com a saída do hospital "terá de fechar portas".
Margarida Neto é uma das poucas clientes no espaço. Recorda que "há um ano ainda se via algum movimento" no restaurante, entre médicos e enfermeiros, e que "tinha de ficar por vezes à espera para ter lugar". Com um ateliê de pintura nas proximidades, Margarida não gosta de falar na crise, mas admite que é "mesmo essa a realidade" do pequeno comércio, que ainda vai sobrevivendo com o Hospital de São José.
"As pessoas vão buscar umas flores, uma revista para ler... E como está próximo da Baixa, também se deslocavam para comprar artigos. Mas não estou a ver esse futuro. É pena", disse.
Na Rua de Santa Marta, o comércio teme o fecho do hospital com o mesmo nome, mas os serviços na paralela avenida da Liberdade ainda vão equilibrando o negócio.
Na praça de táxis, Óscar Marques, taxista residente, admite que mudar os hospitais para um único vai ser complicado: "Vão estar mais taxistas todos na mesma praça, não há distribuição, as pessoas todas ao mesmo sítio. Em princípio cada um terá menos trabalho individualmente".
O projeto para a Colina de Santana prevê a conversão de quatro hospitais (Miguel Bombarda - já desativado -, Capuchos, Santa Marta e São José) em espaços com valências hoteleiras, de habitação, comércio, estacionamento e lazer, aquando da transferência para o futuro Hospital de Todos-os-Santos. As transformações propostas, que incluem ainda o Hospital do Desterro e o antigo convento de Santa Joana, entretanto encerrados, abrangem uma área total de 16 hectares.
O Governo estima a entrada em funcionamento do novo hospital em 2016; a Câmara de Lisboa em 2020.