Comer e bem conviver sentado numa... sanita!
Em Matosinhos, com slogan municipal de sala de jantar do Grande Porto, um restaurante, entre centenas, tem causado brado. O que muito satisfaz Ivo Teixeira e Jaime Guedes, responsáveis pela casa e pela ideia. Adiantam que, na Península Ibérica, não há comedouro que se assemelhe ao W'duck. Ter sanitas por cadeiras e rolos de papel higiénico preto a servir de guardanapo.
Qual o objectivo de colocar 16 vulgares sanitas no sítio das cadeiras? Explica Ivo Teixeira: "Quisemos construir um espaço temático com tudo o que envolvesse o corpo. Quisemos provocar as pessoas, pô-las a pensar. A frase-mote é: Tratar o corpo por dentro e por fora."
Por dentro, "respeita a uma alimentação cuidada, saudável, comida mediterrânica, privilégio aos produtos biológicos". Já por fora, cuidam os produtos de beleza vendidos no piso cimeiro reservado a lojas, salão de chá e pátio. Ali, pode adquirir-se produtos biológicos, joalharia de autor, roupa, sais de banho e os pequenos sabonetes marca Confiança.
Ainda de acordo com o dono de W'duck, se há quem sorria e aprove o décor do rés-do-chão, onde se encontra o café, o restaurante e o bar, ou seja, as sanitas, também não falta transeunte a discordar da ideia. Para Ivo Teixeira, a indiferença é o que não interessa. Ainda que tenha tirado o curso de artes plásticas, o empresário nunca quis depender apenas dessas habilitações. Daí ter resolvido ir com outros sócios do Porto, para Matosinhos "onde está o nosso público-alvo, entre os 25 e os 40 anos". Clientes que, assinala Ivo Teixeira, "dispõem de capacidade monetária e que compreendem e têm acesso ao design com estilo". O que "facilita a leitura deste projecto aberto em Novembro do ano passado", realça.
Brincadeiras e tabus
Natural do concelho, Manuel Casimiro detém-se no número 345 da Avenida da República, frente a Matosinhos Sul, estação do metro, onde fica o W'duck. Ficou admirado com a visão. "Já me tinham dito que havia um restaurante com sanitas na sala, mas pensei que fosse brincadeira do 1.º de Abril. Sou como o S. Tomé, ver para crer. Se gosto? Julgo que cada coisa tem a sua utilidade. Comer numa sanita faz lembrar outra coisa."
Os clientes, esses, na sua maioria jovens, falam numa atmosfera intimista, principalmente à noite. E realçam a qualidade do serviço e a forma amável do trato.
Há quem frequente o restaurante para saborear um dos 18 chás com respectiva explicação sobre as suas características, e bolos caseiros. É o caso de Manuel Antunes e de Susana Melo, da Foz, para quem o sítio "é muito agradável, aconchegado, moderno e diferente". Quanto à presença das sanitas, não hesitam em afirmar: "Não temos tabus. Há que inovar e desmistificar."
Após o jantar, Cláudia e António Ramos manifestam-se, também, agradados pelo ambiente. "Mais que não seja, gostamos de mandar às malvas os preconceitos." Ivo Teixeira revela que a afluência não pára de subir. Pensa, até, expandir o negócio. Até porque as referências ao restaurante, vindas do estrangeiro via Internet, são muito positivas. |