Porque é que o preço do combustível está a descer, mas ainda é mais caro que em janeiro?
O preço da gasolina está a descer já há seis semanas consecutivas, mas ainda assim continua mais caro do que no início do ano, quando o preço por litro de combustível rondava os 1,510 euros por litro. Agora, é o petróleo em queda a ditar preços mais baixos. No espaço de apenas um mês e meio, o preço do barril de petróleo brent passou de um pico máximo (desde 2014) de 86,29 dólares o barril para um mínimo de 65,47 dólares. Uma desvalorização de quase 25% (mais de 20 euros) em apenas seis semanas.
O efeito não se fez esperar nas bombas de combustível: com a descida prevista de 1,5 cêntimos no preço da gasolina simples 95 já a partir da próxima segunda-feira, de acordo com fontes do setor ouvidas pelo Dinheiro Vivo, esta será também a sexta semana consecutiva de quedas no valor deste combustível em Portugal, que entretanto ficou quase nove cêntimos mais barato.
No início de outubro a gasolina estava à venda acima de 1,6 euros por litro, caindo agora para 1,517 euros. Desde 16 de abril que não se via um preço tão baixo para abastecer: há sete meses a gasolina rondava os 1,514 euros, de acordo com dados da Comissão Europeia.
No gasóleo, e de acordo com a mesma fonte do setor, a queda nos preços será também de 1,5 cêntimos na segunda-feira, para 1,389 euros por litro. O diesel cai assim pela segunda semana consecutiva. Mas ainda assim está mais caro do que no início do ano, quando um litro de gasóleo custava 1,321 euros.
No entanto, na visão da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias esta redução está longe de ser suficiente. "Por que razão desce o preço do barril, mas não desce o preço do gasóleo?", questiona a ANTRAM. E dá um exemplo: a 15 de outubro o preço do barril situava-se nos 80,91 euros, e o preço médio do gasóleo nos 1,404 euros/litro; um mês depois, a 14 de novembro, o petróleo desceu para os 65,58 euros e o diesel está mais caro, nos 1,435 euros/litro.
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"Apesar de estarmos perante uma descida superior a 15 euros, a realidade é que vemos mesmo uma subida no preço do gasóleo", refere a associação. O presidente Gustavo Paulo Duarte aponta o dedo às empresas do setor petrolífero. "Era importante ver os resultados das companhias nestes momentos de queda do preço do petróleo. Sob a justificação dos impostos altos, acabam por manter os preços altos. Quando o petróleo sobe, todos acompanham, ao minuto, mas na descida justificam-se com futuros para não descer."
António Comprido, da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas, confirma que a descida do petróleo se tem refletido mais na gasolina do que no gasóleo, mas garante que "a evolução dos preços do crude tem sempre repercussão nos preços dos combustíveis". Nunca na mesma percentagem, avisa, e pode demorar até duas semanas. Margens da refinação, carga fiscal, custos da distribuição e armazenamento, e acima de tudo a taxa de câmbio entre o euro e o dólar, entre outros fatores, explicam os preços que as pessoas pagam nas bombas. "Claro que os preços mais baixos são sempre mais agradáveis para os consumidores. Facilitam o consumo e também é bom para quem comercializa e distribui."
Francisco Albuquerque, presidente da Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis, diz que na última década a evolução do preço do petróleo não se refletiu devidamente nos preços dos combustíveis, devido à taxa de câmbio desfavorável ao euro. Em Portugal, garante, a causa principal deste desfasamento é a enorme carga fiscal. "Os revendedores mantêm as suas margens inalteradas há uma década e tentam compensar as perdas com vendas em loja e lavagens de automóveis."