Combater o cancro está nas mãos de cada um de nós
No Dia Mundial da Luta contra o Cancro, é importante relembrar que a Comissão Europeia lançou em 2021 o respetivo Plano Europeu que contempla quatro pilares para o combate na União Europeia: prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e cuidados de suporte e paliativos. A investigação está, igualmente, incluída em cada um destes pilares, por ser tão importante para a evolução nesta área.
A importância da contribuição dos doentes na construção destes pilares, é também sublinhada, sendo necessário ouvir as Associações de Doentes e incluir os seus contributos. É realmente um plano ambicioso onde a participação de todos é fundamental para o seu sucesso.
Calcula-se que cerca de um terço dos cancros possam ser evitáveis com a mudança de comportamentos. A prevenção, com ações que incidam sobre os principais fatores de risco, como o tabaco, álcool e obesidade, podem reduzir a sua incidência. Em Portugal, ainda há muito a fazer para melhorar a literacia em saúde e aumentar o conhecimento sobre a doença e é, igualmente, necessária a criação de medidas para introduzir, de forma consistente, mudanças nos hábitos de vida da população, tais como alimentação saudável e exercício físico, entre outros comportamentos saudáveis.
Neste contexto, as campanhas e leis anti-tabaco são, da mesma forma, fundamentais.
A presença regular de mensagens e informações permitiriam ajudar a reduzir o consumo, garantindo uma diminuição nos já elevados números do cancro do pulmão, uma patologia silenciosa que frequentemente é detetada em fases avançadas.
A vacinação é outra medida preventiva essencial para evitar o cancro associado a infeções, como o HPV (Papiloma vírus), principal fator de risco para o cancro do colo do útero. Em Portugal já faz parte do Plano Nacional de Vacinação, sendo um passo fundamental para a diminuição da sua incidência e mortalidade.
A vacinação para a Hepatite B é um exemplo do bom caminho que Portugal tem seguido.
O rastreio e deteção precoce do cancro é outro dos pilares fundamentais para reduzir a mortalidade por cancro. A Comunidade Europeia pretende que até 2025, 90% da população europeia, candidata a rastreio, tenha acesso fácil e de qualidade ao rastreio do cancro da mama, colo do útero e colorretal. Em Portugal, o acesso ao rastreio do cancro da mama não atinge todas as regiões com a mesma abrangência por falta de recursos. O mesmo acontece com o cancro colorretal.
Há por isso muito ainda a fazer para, por exemplo, aumentar a deteção precoce e reduzir a mortalidade por cancro coloretal, que é a principal causa de morte por cancro, quando juntamos a mortalidade em ambos os sexos.
Outro dos pilares do Plano Europeu da Luta Contra o Cancro baseia-se na rapidez do diagnóstico nos casos sintomáticos. Um dos objetivos passa por se desenvolver ações destinadas a assegurar cuidados oncológicos integrados e abrangentes, combatendo a desigualdade entre estados-membros - e mesmo no interior de cada país.
O acesso desigual a diagnósticos e tratamentos inovadores é mais uma das preocupações, pretendendo criar-se uma base de dados que permita identificar as principais iniquidades e razões dessa diferença.
A melhoria da qualidade de vida dos doentes e sobreviventes de cancro é um dos eixos do documento, que propõe várias iniciativas no sentido de se perceber quais são as principais dificuldades e necessidades não respondidas pelos cuidados de saúde e sociedade. A reintegração plena laboral e social é uma das metas que se pretende atingir, sendo necessário compreender o que se passa no terreno em cada um dos países.
Por fim, nunca é demais dizer que a melhoria do atual panorama está nas mãos de cada um de nós. Nas entidades oficiais, nos profissionais de saúde, na indústria farmacêutica e de tecnologia médica, em cada pessoa e naquilo que pode fazer por si mesma e pelos outros.
Diretora Clínica da CUF Oncologia