Comandante da GNR exonera dois oficiais
Os alegados "negócios escuros" na Escola Prática da Guarda Nacional Republicana (GNR) já produziram as primeiras vítimas.
Por despacho do comandante-geral da GNR, Mourato Nunes, foram exonerados das funções dois tenentes-coronéis: Manuel Pinheiro, que era presidente do conselho de administração da escola, no dia 2; e João Pedrosa, no dia 9, até então chefe da Intendência do Comando-Geral (responsável pelas compras).
Neste mesmo dia deu entrada no Ministério Público (MP) o dossier com todos os indícios das irregularidades processuais cometidas por ambos - para apuramento de eventuais actos cri- minosos. Ao que o DN apurou, estas primeiras averiguações, levadas a cabo pelo inspector-geral da GNR, major-general Brás Marcos, foram supervisionadas directamente por Mourato Nunes.
Esta caso foi divulgado, recorde-se, dia 29 de Abril, no semanário Expresso. Mas, de acordo com fonte do DN, Mourato Nunes já havia ordenado no dia 21 uma auditoria financeira à Escola Prática da GNR, a pedido do comandante do estabelecimento de ensino, Carlos Chaves.
Este oficial detectara vários negócios suspeitos entre o presidente do conselho de administração da escola e algumas empresas. Uma delas pertencia ao pai de João Pedrosa. No seguimento destes factos, Carlos Chaves mandou Manuel Pinheiro tirar uns dias de férias para que as investigações avançassem sem a sua presença.
A mesma fonte salienta que o erro do comandante-geral foi não ter comunicado logo o caso ao ministro da Administração Interna. "Mourato Nunes não contava que houvesse fuga de informação, e que a mesma causasse tão grande impacto mediático. Pensava que tudo iria correr com descrição", explicou ao DN.
A 2 de Maio, no seguimento da notícia do Expresso, António Costa recebeu o comandante-geral, ordenou-lhe que enviasse para o MP todas as irregularidades apuradas e criticou-o por não o ter feito logo que os primeiros indícios foram apurados. Achou também estranho que Manuel Pinheiro tivesse ido de férias sem um processo de averiguação disciplinar.
Em despachado emitido naquele dia, António Costa manda para o terreno a Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) para "desencadeamento de acção disciplinar e, nesse âmbito, da suspensão do suspeito (ou suspeitos) de todas as suas funções". Os inspectores estiveram esta semana na instituição, soube o DN.
Fonte da GNR disse estranhar que averiguações - acompanhadas pelo comandante-geral desde o dia 21 de Abril - tivessem surgido na comunicação social. Mais estranho ainda, frisou, foram as notícias ontem veiculadas pelo semanário Tal & Qual, segundo as quais Mourato Nunes estaria a ser investigado pelo MP. "O semanário repete insinuações que o comandante-geral, há já muito tempo, enviou para o MP em queixa contra incertos", disse fonte da GNR, informando que o semanário vai ser processado.