Segundo o republicano que preside à Comissão dos Serviços Secretos da Câmara dos Representantes, o maior sucesso do novo inquilino da Casa Branca foi pôr a política externa dos EUA de novo no mapa, como explicou numa breve conversa com o DN..Em dezembro - numa outra entrevista ao DN - disse que Trump é uma pessoa muito curiosa, que aprende depressa. Agora que passaram cem dias da sua presidência, que balanço faz?.A maior preocupação que tenho é que o Congresso, nós, não conseguimos passar a reforma da saúde. Foi culpa nossa. Agora parece que pode haver um acordo. Mas sem reforma da saúde vai ser difícil fazer a reforma fiscal. São dois assuntos que temos na agenda, por serem tão importantes para a nossa economia..[artigo:5530019].Foi o maior falhanço da presidência Trump até agora?.Sem dúvida..E o maior sucesso?.Voltámos a colocar a nossa política externa no mapa. As pessoas sabem que não temos medo de usar a força militar se for necessário. Especialmente em casos ligados ao uso de armas químicas, o que foi um problema na última administração. Parte do problema é que o ISIS, a Al-Qaeda, a guerra civil na Síria continuaram a prosperar devido à nossa falta de vontade para usar os nossos meios..Está a regressar do Médio Oriente e esteve com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, falaram da cooperação na guerra contra o ISIS?.Falámos. Mas falámos sobretudo de África. Nós sabemos que Portugal tem muita influência nessa região. E sabemos que não vamos resolver o problema jihadista global sem resolver todos os problemas de uma vez. África tem de fazer parte desse plano. Estou totalmente de acordo com o vosso Presidente neste assunto, no que diz respeito aos problemas em África, do Mali às milícias Al-Shabbab no Leste. É uma área em que claramente podemos cooperar..E quanto a uma cooperação mais profunda entre os EUA e a Rússia na luta contra o ISIS?.[Ri-se] Sonhamos sempre com isso. Mas como já fui avisado por muitos dos meus colegas e por antigos presidentes com quem trabalhei, provavelmente não vai ser possível..Teve de se afastar da investigação à alegada ingerência russa nas presidenciais americanas. Foi a decisão certa?.Ainda há muito trabalho que tem de ser feito e já estávamos na fase 2 da nossa investigação, já tínhamos dois procuradores do nosso lado a trabalhar nisso. Mas a política está tão maldosa neste momento nos EUA, tão dividida, que foi a melhor coisa a fazer. Mas olhe, isso não quer dizer que eu vá deixar de me preocupar. Fui das pessoas que se preocuparam mais com a Rússia durante muitos, muitos anos. Tudo isto foi um certo histerismo... Que o único tipo que durante as últimas administrações foi um dos mais críticos no Congresso com a Rússia agora se encontre nesta situação de algum modo precária. Mas é a natureza da política, dos media, daquilo com que temos de lidar. E eu aceitei fazer isto, ninguém me forçou a fazê-lo..Hoje todos estão preocupados com um eventual conflito na Coreia do Norte. Há um perigo real ou é um exagero?.É um regime que se tem tornado cada vez mais fanático. E de cada vez que lançam um míssil ou detonam uma arma, tornam-se melhores. Algo está errado na cabeça de alguém que usa armas antiaéreas para matar os inimigos no solo. Algo não está bem na cabeça deste regime, deste líder e do pai antes dele. Parece estar a ficar pior: mais fanático e com tecnologia cada vez melhor, que se for usada pode matar milhões de pessoas..O que aconteceu com o envio de um porta-aviões para a Coreia do Norte que afinal não se dirigia para lá?.Bem, uma das melhores coisas que o presidente fez - disse isso na campanha e até depois - é que não devia falar do que vai ou não fazer em termos militares. E acho que ele devia manter essa posição. Seria muito sensato da parte dele. O que aconteceu foi que ele queria fazer isso, anunciou-o e parece que entretanto o porta-aviões está mesmo a dirigir-se para lá. Mas não se deixem enganar: temos muitos ativos militares naquela região. E estamos preparados caso os norte-coreanos façam alguma coisa..As Lajes são uma das suas preocupações. Discordou da política da última administração em relação à base. Agora a posição dos EUA vai mudar?.Não sabemos o que vai acontecer. Foram causados muitos danos nos últimos anos na nossa relação com Portugal, na relação com os Açores. A base está um caos neste momento, com as pessoas, as instalações... E esperemos que alguém avance a acabe com isto. Em parte já começou. Reconheceu-se finalmente que é preciso voltar a olhar para as nossas bases na Europa. É um primeiro passo importante. Isso mostra que são necessárias mudanças na nossa postura em relação ao comando europeu..O interesse chinês na Base das Lajes pode pôr pressão na administração?.Estou muito preocupado com o crescimento e a expansão da China no mundo. Estão a fazê-lo de uma forma muito sorrateira e perversa, tomando o controlo de parte da economia de vários países, dos portos. E o que temos visto é que têm sido muito bem-sucedidos em países como Djibuti ou o Sri Lanka, agora também São Tomé. E têm de ser travados. É um crescimento que não é aceitável. E ter qualquer estrangeiro perto da Base das Lajes seria um problema..PERFIL.Nasceu em 1973 em Tulare, na Califórnia..Formado em Agricultura..Representa desde 2003 o 22º distrito da Califórnia na Câmara dos Representantes..Dois bisavôsde Nunes saíram juntos da ilha de São Jorge nos Açores para os EUA, tendo-se instalado em Tulare no início do século XX. Separados, voltaram a encontrar-se 30 anos depois quando descobriram que os filhos iam casar-se. Agricultores, a família de Nunes adquiriu uma quinta onde se dedicou à criação de gado. Aos 14 anos, Devin partiu o mealheiro para comprar as primeiras sete cabeças de gado. A viver há 14 anos em Washington, mantém a ligação à terra. Casado com Elizabeth (também lusodescendente), tem três filhas.