Com subida de juros em perspetiva, mudar para taxa fixa do crédito está em aberto
Admitir a possibilidade de mudar o contrato de crédito de uma taxa de juro variável para uma fixa pode a fazer sentido, depois de a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, ter dito na última segunda-feira que as taxas de juro diretoras do banco central deverão começar a subir a partir de julho, e regressar a patamares positivos em finais de setembro, mudanças que visam conter a subida da inflação nos 19 países da moeda única, depois de esta ter atingido 7,5% em abril, já muito longe dos 2%, a meta prevista nos compromissos do BCE.
Ora, será este o momento para pedir alteração no banco para uma taxa fixa nos contratos de crédito, em especial, no da habitação?
Na opinião do analista da corretora XBT, Henrique Tomé, sim, e as famílias já o deveriam ter feito há mais tempo. Contudo, Filipe Garcia, presidente e economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros, acredita que "cada caso é um caso" e que antes de qualquer alteração ao contrato, deve ser pedida uma simulação para analisar as propostas dos bancos.
"Recomendaria a passagem para taxa fixa às famílias que têm um orçamento muito limitado e com pouco espaço para absorver subidas de juros, e não recomendaria nos casos em que se planeia amortizações antecipadas", defende o responsável.
Apenas "quem está disposto a correr o risco, deve manter uma taxa variável", diz Natália Nunes, coordenadora do gabinete de proteção financeira da Deco.
Apesar de estarem negativas desde 2015, as Euribor negociaram acima dos 5% em 2008. Caso aconteça, adverte outro analista da XBT, Nuno Mello, "as prestações dos créditos à habitação irão tornar-se incomportáveis para muitas famílias".
Antes de tomarem a decisão de manter a taxa variável, "devem pesar se valerá a pena pagar agora um pouco mais, mas ter a segurança de que a sua prestação não aumentará, ou se preferem usar os próximos meses para construir uma almofada financeira que permita suportar subidas grandes", acrescenta.
No caso de optar por alterar para taxa fixa, "o cliente não incorrerá em qualquer custo junto da instituição bancária, no entanto, é necessário recordar que a prestação que vai pagar é mais elevada do que a prestação indexada à Euribor", explica o responsável da XBT. Também Filipe Garcia observa que, procedendo a esta mudança, "no caso de uma amortização antecipada, passará a pagar uma comissão de 2%, em vez de 0,5%".
Otimizar o orçamento familiar e tentar negociar o spread (única componente da taxa de juro negociável) com o banco são as recomendações de Natália Nunes para atenuar as subidas anunciadas.
Uma vez que a evolução das taxas Euribor (taxas de juro aplicadas a empréstimos pelos bancos do Eurogrupo) está intimamente ligada às alterações das taxas de juro diretoras do BCE, em termos práticos, qual será o impacto desta medida no bolso daqueles que contraem créditos?
Com um expectável "aumento de 25 pontos base em julho", após o término do programa de compra de ativos na zona euro, "os contratos de créditos também serão afetados", explica Henrique Tomé, analista da corretora XBT, alertando que "quem possui créditos deverá começar a pagar mais, retirando desta forma poder de compra às famílias".
No entanto, "a repercussão nos contratos de crédito [vai] depender do indexante contratado e da data de entrada do contrato em vigor", ressalva Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa. "As famílias já têm a perceção de que as taxas vão subir. Acontecendo, vai ter um impacto direto nas suas prestações. Têm de acautelar e estar preparadas para estas revisões", dá conta Natália Nunes.
Segundo os dados do Banco de Portugal, os contratos a taxa variável representavam 93,3% do número de contratos em carteira no final de 2020. Já a taxa mista (regime que permite ter uma taxa fixa durante um período inicial e, posteriormente, uma taxa variável) correspondia a 5,5% dos contratos. Por fim, a taxa fixa continuava a ter um peso residual, representando 1,2% do número de contratos em carteira. Quanto aos prazos escolhidos pelos portugueses, o indexante a 6 meses liderava, com 41,6% dos contratos, enquanto a 12 meses detinha 24,5% e a três meses 32,1%.