Com quem se vai parecer o bebé de Bridget Jones?
Ainda se lembra da eterna solteirona Bridget Jones, envergando o seu pijama vermelho com pinguins como quem enverga a solidão, e a cantar All By Myself fervorosamente? Já passaram 15 anos sobre esta imagem de marca, que nos chegava com o primeiro O Diário de Bridget Jones (2001), e ela volta a ocupar os ecrãs das nossas salas de cinema a partir de quinta-feira, como se fosse um remake, com novo tema musical, ou então uma prova do eterno retorno.
Na verdade, é também Renée Zellweger que está de regresso nesta euforia solitária, 12 anos após a sequela, e seis de total afastamento mediático... Não obstante a polémica relacionada com a sua presumível cirurgia plástica, que, assumindo como verdadeira (apesar do desmentido da atriz), lhe retirou algo da feição risonha tão característica da personagem, Zellweger continua no domínio perfeito desta mulher encalhada. A saber, a forma tosca de caminhar é a mesma, o apartamento onde mora é o mesmo, a vida está igual, mas a nostalgia do passado chega inesperadamente, depois de uma tentativa apressada de sair da rotina...
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Antes de avançarmos para pormenores, vale a pena sublinhar que justamente a passagem do tempo é algo de muito positivo para qualquer franquia, alimentando o poder da memória e a consequente redescoberta de um universo, a cada novo filme. É na perceção desse estímulo que vemos O Bebé de Bridget Jones, com Sharon Maguire (que assinava o primeiro) a tomar de novo conta da realização, depois de um segundo filme, em 2004, dirigido por Beeban Kidron, que ficou uns pontos abaixo da dinâmica inicial. Como o recente título coloca em evidência, desta vez Bridget Jones, ainda fresca da celebração dos seus 43 anos, e empenhada na carreira de produtora televisiva, depara-se com um novo problema: está grávida. Mas não era suposto a gravidez ser sinónimo de alegria, naquela vida celibatária? Seria... se Bridget soubesse quem é o pai.
Agora que o mulherengo Daniel Cleaver (Hugh Grant) já não entra para as contas - está ausente deste elenco, embora com presença espiritual -, restam o sempre hirto e distinto Mark Darcy (Colin Firth) e um novo sex symbol, Jack Qwant (Patrick Dempsey), que irrompe na vida de Bridget por aquela porta chamada "loucura de uma noite". Para não variar, ela está de coração dividido, na mesma medida da probabilidade 50/50 do aguardado teste de paternidade. E essa aparente indecisão aviva a competitividade entre Darcy e Jack, que formam uma cómica coreografia de gestos diligentes à volta da futura mamã.
Se a ideia do argumento não é propriamente extraordinária, não será de apontar, no entanto, grandes embaraços em termos de engrenagem narrativa. Note-se que Helen Fielding, a jornalista britânica que criou a personagem através das crónicas escritas para o jornal The Independent (convertidas num romance publicado em 1996), continua a fazer parte do conjunto de argumentistas, onde encontramos ainda os nomes de Dan Mazer e Emma Thompson (aqui também no papel da obstetra de Bridget).
Dentro da sua mediana gratificação, enquanto produto que facilmente se tornará um clássico de domingo à tarde, como os anteriores, O Bebé de Bridget Jones consegue manter-se no lugar intocável do entretenimento benigno. Sobretudo, este terceiro título, chegado com uma década de amadurecimento, sem grandes alterações no elenco e com um subtil trabalho memorialista, tem a mais-valia da simplicidade - tão difícil de encontrar hoje em dia nas sequelas - e de trazer de volta a talentosa Renée Zellweger.