Luís Montenegro vence diretas com 72,5% dos votos
Quase 73% dos votos. É este o valor que traduz a vitória esmagadora de Luís Montenegro sobre Jorge Moreira da Silva (que conseguiu perto de 27%). Depois de Rui Rio, os destinos do PSD serão agora conduzidos pelo ex-líder parlamentar social-democrata, que à segunda vez conseguiu vencer umas diretas do partido.
No primeiro discurso enquanto presidente eleito do PSD, Luís Montenegro considerou que a campanha que agora termina foi uma "grande jornada" que honra a democracia e o país. Dirigindo-se "a todos os portugueses", Montenegro anunciou não ter sido o partido o vencedor, mas sim Portugal. "Ganhou hoje uma alternativa política ao socialismo dos últimos anos, para construirmos com coragem e consistência", afirmou.
Perante o resultado esmagador frente a Jorge Moreira da Silva, Montenegro considerou que "este foi um sinal de mobilização". "O dia de hoje vai ficar conhecido como o princípio do fim da hegemonia do PS em Portugal", afirmou. E não tardou em atirar farpas ao PS: "A herança do governo de António Costa e seus delfins é o empobrecimento do país e Portugal na cauda da Europa", prometendo que o PSD "será uma oposição, acima de tudo, com sentido de Estado", mas relembrou: "Não vamos ser apenas a voz da oposição, vamos ser a voz da esperança, a voz do futuro."
"Queremos estar na frente e retirar Portugal da cauda da Europa", prometeu.
Para Luís Montenegro, Jorge Moreira da Silva é "um quadro altamente qualificado, um político pronto a servir o país, e não vamos prescindir dos seus ideais e de quem o apoiou nesta campanha".
Apesar do mandato terminar daqui a dois anos, Montenegro ressalva: "Vim para ser candidato a primeiro-ministro e preparar o PSD para ser maioria no Parlamento e governar Portugal".
Sobre a forma como irá ser feita a articulação entre a liderança cessante do PSD e a liderança que irá tomar posse, Montenegro foi perentório: "Será feito à moda dos homens bons: a conversar uns com os outros".
Depois de uma campanha em que, ao contrário do que aconteceu com Jorge Moreira da Silva, nunca afastou acordos com o Chega, o agora líder eleito do PSD disse que "nunca foi o tema de campanha, também não será tema hoje à noite. O meu tema será sempre ser uma alternativa ao PS e para governar o país", reforçando o objetivo: "Vamos abrir o PSD a todos. Não estamos mais ou menos à direita. Estamos onde sempre estivemos: a olhar para as pessoas", atirou.
Na primeira reação à derrota sofrida, Jorge Moreira da Silva começou por felicitar Luís Montenegro, desejando-lhe "êxito", lembrando que este também será o do PSD. "Sabia ao que vinha quando me demiti da OCDE, que o contexto era adverso. Nessa altura, já a maior parte dos líderes tinha declarado apoio à outra candidatura", explicou, relembrando que nenhuma estrutura distrital o apoiou.
"A campanha que fizemos, creio, cumpriu o papel de dignificar a democracia e dos militantes", teceu, atirando: "Não podia esperar que me fossem buscar a Paris com a chave da sede do partido na mão".
Ao fazer um balanço da campanha, Moreira da Silva referiu ter feito "tudo para que os portugueses pudessem comparar projetos" e lamentou "a indisponibilidade da outra candidatura" para debater.
Dirigindo-se aos militantes do PSD, Moreira da Silva referiu estar ao serviço do partido, contribuindo para a "estabilidade" interna. "Podem continuar a contar comigo", atirou. "Fui livre quando me decidi candidatar e durante toda a campanha e não estou agora disposto a abdicar da minha autonomia e da liberdade de pensamento por não ter vencido. Não desisti de Portugal, não me conformo nem me resigno. Continuarei mobilizado no plano político e cívico", prometeu.
Luís Montenegro, 49 anos, advogado, atualmente a trabalhar no setor privado, foi autarca. Primeiro membro da assembleia municipal e vereador da Câmara de Espinho. Foi eleito deputado nas legislativas de 2002, onde teve mandato até 2019. Entre 2011 e 2017 foi o escolhido para liderar a bancada social-democrata, onde ganhou forte protagonismo. No PSD desenhou um caminho de confronto com Rui Rio, ao ponto de ainda em 2019 ter desafiado a liderança e obrigado o então presidente do partido a apresentar ao Conselho Nacional do PSD uma moção de confiança na direção (que ganhou). No ano seguinte, Montenegro enfrentou mesmo Rui Rio (e Miguel Pinto Luz) em diretas, embora tenha perdido essa batalha. Remeteu-se aos bastidores e esperou pela oportunidade certa para reaparecer. Este sábado foi eleito líder do sociais-democratas.
Na moção de estratégia com que se apresentou contra Jorge Moreira da Silva, Montenegro é muito vago quanto ao que pretende para a reforma do sistema político, mas essa é uma das suas promessas. Concretiza mais na modernização do PSD, onde prevê, entre outras coisas, a criação de uma academia de formação política, tal como a revisão estatutária que abra a porta à participação eleitoral de todos os militantes do PSD mesmo sem quotas pagas.
Com a mira na vitória nas legislativas de 2026, avança com a ideia de criação do "Movimento Acreditar" para discutir com a sociedade e elaborar o programa eleitoral. O candidato promete não passar "linhas nucleares" do partido, mas considera extemporâneo falar sobre futuros diálogos com o Chega. Ou seja, não rejeita essa possibilidade. E assume o PSD como o "partido incumbente do espaço não socialista".
O líder eleito do PSD Considera o Serviço Nacional de Saúde "absolutamente fundamental" e aponta para um médico de família para cada português. Defende ainda incentivos a estilos de vida saudáveis e propõe o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB).
Luís Montenegro salienta a necessidade de voltar a fazer deste setor "um verdadeiro elevador social" e a importância de "valorizar a profissão do professor, ao nível de toda a sua carreira", bem como a reintrodução do ensino vocacional em articulação com o ensino profissional. Montenegro quer também "incentivos à criação de instalações de educação pré-escolar em empresas".
Quanto ao sistema fiscal, defende uma reforma, com alterações no IRC capazes de promover o reinvestimento dos lucros empresariais. No IRS, o candidato quer "um alívio da carga fiscal assente numa progressividade mais harmoniosa e escalonada e em que a taxa marginal máxima não ultrapasse os 45%", com atualização das tabelas de retenção na fonte com base na taxa de inflação.
Já para a Justiça, o líder eleito dos sociais-democratas aponta como prioridade "uma transformação estrutural do sistema de Justiça económica", que torne a Justiça para as questões económicas "mais célere e eficiente, reduzindo a morosidade e os custos da litigação, da cobrança de dívidas, das falências e recuperação de empresas, bem como dos tribunais administrativos e fiscais".
Para a área do Ambiente, considera "desejável" antecipar a data prevista para o país atingir a neutralidade carbónica (2050). E propõe, entre outras medidas, que o Estado dê incentivos financeiros e fiscais para as famílias melhorarem a eficiência energética das suas casas e às empresas que reduzam o consumo de energia. Defende a que a produção por fontes renováveis "tem de assentar num quadro de competição e não de rendas públicas".