O PT de Lula da Silva e as candidaturas de Jair Bolsonaro (PSL) e de Ciro Gomes (PDT) anunciaram no último dia do prazo dado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) os seus candidatos a vice-presidentes às eleições de 7 de outubro. Ao escolher Fernando Haddad para o cargo, o PT encerra o mistério sobre quem será o seu candidato a presidente, no caso, altamente provável, de Lula não poder participar no sufrágio, por ter sido condenado em segunda instância e não cumprir as regras previstas na Lei da Ficha Limpa..Foi anunciado ainda que o PT se aliou à última hora ao PCdoB, que já havia avançado com uma candidata ao Palácio do Planalto, a deputada estadual do Rio Grande do Sul Manuela D'Ávila. Isso equivale a dizer que, caso se confirme o impedimento de Lula, a dupla candidata será composta por Haddad e por Manuela. .O TSE, porém, tem até ao dia 17 de setembro para se pronunciar sobre a situação eleitoral do antigo presidente, pelo que, até essa decisão ser tomada, se falará em duas hipóteses de duo no campo do PT: ou Lula-Haddad ou Haddad-Manuela.."Vamos em busca do penta", lia-se nas redes sociais do PT, numa referência às quatro vitórias anteriores consecutivas nas presidenciais, duas através de Lula e duas via Dilma Rousseff, "para fazer o Brasil feliz outra vez", concluíam os petistas..A grande dúvida será se Lula, sem poder participar na campanha por se encontrar detido numa prisão de Curitiba a cumprir pena de 12 anos e um mês por corrupção, conseguirá transferir os seus votos para Haddad. Por enquanto, o ex-sindicalista, quando incluído nas sondagens, soma perto de 30% enquanto o professor universitário, nas pesquisas que não citam Lula, não passa dos 3%..Um general para Bolsonaro.Entretanto, Bolsonaro, segundo classificado nas sondagens, acabou por convidar para a vice-presidência o general Hamilton Mourão, apesar de momentos antes do anúncio a imprensa dar como certo o nome de Luiz Philippe Bragança, o integrante da família real brasileira que também pertence ao PSL. "Havia pessoas a quem não interessava que fosse eu o candidato a vice, ele foi blindado e eu não consegui falar com ele", disse Bragança..Janaína Paschoal, a primeira escolha de Bolsonaro, declinara o convite na manhã de domingo "por razões familiares". Mourão, que chegou a sugerir uma intervenção militar em setembro do ano passado, pertence ao PRTB, que assim abdicou de indicar o seu candidato ao Planalto do fundo da tabela das sondagens Levy Fydelix, conhecido por sugerir um comboio aéreo entre o Rio de Janeiro e São Paulo..Ciro Gomes, que falhou todas as tentativas de se coligar com partidos relevantes e assim aumentar o seu tempo de antena, uma vez que cada sigla vale o seu peso parlamentar em segundos de televisão, optou por aquilo a que no Brasil se chama "chapa pura", isto é, uma vice-presidente do mesmo partido. No caso Kátia Abreu, conhecida defensora dos grandes latifundiários e alvo preferencial dos ambientalistas..Kátia, porém, integrou o segundo governo de Dilma Rousseff, construiu uma amizade improvável com a ex-presidente e foi uma das suas mais ferozes defensoras durante o processo de impeachment. Como isso lhe valeu problemas no seu partido de então, o MDB de Michel Temer, filiou-se no PDT..Outros principais concorrentes ao Planalto já haviam anunciado os seus vice-presidentes na última semana: Álvaro Dias escolheu Rabello de Castro, que era candidato a presidente pelo PSC, Geraldo Alckmin optou por Ana Amélia, senadora do PP, Marina Silva estabeleceu aliança com Eduardo Jorge, do PV, e Henrique Meirelles surgirá ao lado do colega de MDB Germano Rigotto..RAIO X DOS SETE PRINCIPAIS CANDIDATOS.ÁLVARO DIAS.Partido: PodemosIdade: 73 (Quatá, São Paulo)Profissão: professorCargo: senadorIdeologia: social-democraciaVice-presidente: Rabello de Castro (PSC)Sondagem Ideia Big Data (27/7): 4%Pontos fortes: candidato com menor índice de rejeição de todos; longo percurso na política sem casos de corrupção conhecidos; líder nas sondagens nos três estados do Sul do paísPontos fracos: desconhecido da maioria da população; partido pequeno; muitas candidaturas na sua área política.CANDIDATO DO PTPlano A: LULA DA SILVA.Partido: Partido dos Trabalhadores (PT)Idade: 72 (Caetés, Pernambuco)Profissão: torneiro mecânicoCargo: antigo presidenteIdeologia: socialismo democrático, desenvolvimentismo económicoVice-presidente: Fernando Haddad (PT)Sondagem Ideia Big Data (27/7): 29%Pontos fortes: líder em todas as sondagens; experiência eleitoral e executiva; carisma natural; reconhecimento internacionalPontos fracos: está a cumprir pena por corrupção; tem hipóteses mínimas de ser autorizado a concorrer; forte rejeição, sobretudo nas regiões sul e sudeste.Plano B: FERNANDO HADDAD.Partido: Partido dos Trabalhadores (PT)Idade: 55 (São Paulo)Profissão: professor universitárioCargo: ex-prefeito de São PauloIdeologia: socialismo democrático, desenvolvimentismo económicoVice-presidente: Manuela D'Ávila (PCdoB)Sondagem Ideia Big Data (27/7): 3% (quando Lula não é incluído na pesquisa)Pontos fortes: gestão em São Paulo elogiada internacionalmente; preparação académica; melhor aceitação entre as elites do que qualquer outro quadro do PTPontos fracos: gestão em São Paulo criticada internamente; pouco conhecido no resto do Brasil; ónus de ser considerado um plano B.CIRO GOMES.Partido: Partido Democrático Trabalhista (PDT)Idade: 60 (Pindamonhangaba, São Paulo)Profissão: advogadoCargo: antigo ministro, governador, prefeito e deputadoIdeologia: socialismo democrático, desenvolvimentismo económicoVice-presidente: Kátia Abreu (PDT)Sondagem Ideia Big Data (27/7): 7%Pontos fortes: experiência política; experiência eleitoral; bom debatedor; sem casos de corrupção conhecidos; implantação na região nordestePontos fracos: tendência para gafes; temperamento explosivo; não conseguiu o apoio de nenhum partido relevante, além do seu; visto à esquerda apenas como eventual alternativa ao voto em Lula.GERALDO ALCKMIN.Partido: Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB)Idade: 65 (Pindamonhangaba, São Paulo)Profissão: médicoCargo: governador de São PauloIdeologia: social-democraciaVice-presidente: Ana Amélia (PP)Sondagem Ideia Big Data (27/7): 7%Pontos fortes: apoiado por mais seis partidos além do seu; maior tempo de antena que qualquer rival; triunfos seguidos na eleição para governador do estado mais populoso e rico do BrasilPontos fracos: apoiado por partidos conotados com a Operação Lava-Jato; falta de carisma e simpatia pessoal, de acordo com a maioria dos observadores; envolvimento do seu partido em escândalos.HENRIQUE MEIRELLES.Partido: Movimento Democrático Brasileiro (MDB)Idade: 72 (Anápolis, Goiás)Profissão: engenheiro e banqueiroCargo: ministro da FinançasIdeologia: liberalismo económicoVice-presidente: Germano Rigotto (MDB)Sondagem Ideia Big Data (27/7): 1%Pontos fortes: liderou a área menos criticada do governo Temer, a económica; foi presidente do Banco Central na próspera era Lula; preferido da banca e dos mercadosPontos fracos: pertenceu ao impopular governo Temer; desconhecido da maioria da população; resultados medíocres nas sondagens; candidato pelo partido mais conotado com a "velha política" clientelista.JAIR BOLSONARO.Partido: Partido Social Liberal (PSL)Idade: 63 (Campinas, São Paulo)Profissão: capitão do Exército na reservaCargo: deputado federalIdeologia: nacionalismo, conservadorismo social, liberalismo económicoVice-presidente: Hamilton Mourão (PRTB)Sondagem Ideia Big Data (27/7): 17%Pontos fortes: está destacado nas sondagens (sem Lula); tem forte e aguerrida propagação nas redes sociais; não tem casos de corrupção conhecidos; beneficia da vontade de mudança do eleitorado após a Lava-JatoPontos fracos: discurso considerado retrógrado na área social; desconhecimento, assumido, de economia; escassíssimo tempo de TV; risco de juntar todos os rivais contra si numa eventual segunda volta.MARINA SILVA.Partido: Rede SustentabilidadeIdade: 60 (Rio Branco, Acre)Profissão: formada em História, ambientalistaCargo: antiga ministra e senadoraIdeologia: social-democracia, ambientalismoVice-presidente: Eduardo Jorge (PV)Sondagem Ideia Big Data (27/7): 10%Pontos fortes: sem casos de corrupção conhecidos; visibilidade, até internacional, após duas candidaturas seguidas; boa aceitação entre as elites intelectuais dos principais centros urbanosPontos fracos: apatia nos períodos entre eleições e até em campanha; pertence a um partido pequeno e com escasso tempo de antena; falta de capacidade de atrair outros partidos, além do seu e do PV, ao projeto