Com ajuda do Altíssimo
"Foi Deus!", diz A Bola. Mas eu dei-me ao trabalho de confirmar e constatei que o árbitro do jogo Estoril-Benfica (1--2), no Estádio Algarve, é mais conhecido pelo nome de Hélio Santos. A não ser que tenha outro apelido, igual ao do Altíssimo - ou que este tenha descido àquele relvado em estado gasoso, incolor e inodoro, como os gases nobres a cuja família pertence o hélio. Se assim foi, falta agora saber se José Veiga, director de futebol do Benfica, também se chamará Espírito Santo. E se Cristo será outro apelido de António Figueiredo, administrador da SAD do Estoril, precisamente o clube que aceitou a "crucificação" da sua equipa de futebol, transferindo esta partida para Faro.
Estamos perante um problema teológico que não é de monta, já que todos sabem que nenhuma das três pessoas da Santíssima Trindade aceitaria o sacrifício supremo em defesa de uma melhor receita de bilheteira. Mais depressa tal sacrifício seria aceite para proporcionar o supremo bem (o título?) a outrem (o Benfica?), que já o persegue há dez anos. Sou agnóstico, confesso, mas estou muito atento e há subtilezas teológicas que já não me escapam. Bem sei que o Benfica conta, entre os seus mais ilustres sócios, com um teólogo laico de grande envergadura - o ex-ministro Bagão Fé-lix - e agora até tem um democrata-cristão genuíno na presidência do CDS/PP. Mas nós, os sportinguistas, também temos o padre Vítor Melícias - e eu sei que ele não me deixa mentir.
Vi o jogo Estoril-Benfica através da TVI, porventura o mais "devoto" dos canais da TQT (Televisão Que Temos), ainda sob o efeito que me tinha causa- do, horas antes, a audição da MissaSolemnis (em ré maior, opus 123) de Beethoven, durante a Festa da Música no CCB. Sou adepto do Sporting, mas também sou fã do Ludwig Van! Talvez por isso, quando vi (a seguir ao 1-0) a equipa do Estoril reduzida a dez (1-1) e, depois, a nove jogadores (1-2), dei por mim a trautear instintivamente o AgnusDei "Cordeiro de Deus, que nos redimes dos pecados do mundo, tem piedade de nós". Não, eu não estava sob o efeito do hélio. Era a equipa do Estoril que estava sob o efeito do Hélio Santos a cortá-la aos bocadinhos, como se estivesse a cozinhar um ensopado de borrego.
"Espero que o resultado não impeça o Benfica de ser campeão" - desejou Cristo, perdão, António Figueiredo, antes do jogo. E o Altíssimo foi todo ouvidos. Um título de campeão para o Ben-fica vale bem o sacrifício da descida do Estoril à Liga de Honra. Já se sabe que, como profetizou Luís Filipe Vieira, o País e o mundo vão parar, rendidos à classe do conjunto de "galácticos" que fez miséria no Algarve. Até já há uma sinfonia à altura, composta pelo "Beethoven da Luz", o inefável maestro Vitorino de Almeida. Por acaso ainda só vou na nona do Ludwig Van, mas o meu ouvido há-de lá chegar.
Sou sarcástico, mas não sou fanático. No Alvalade XXI, o árbitro não assinalou um penalty claro contra a Académica, mas compensou largamente o Sporting ao poupar um cartão vermelho a Anderson Polga. De resto, a equipa do Sporting até nem jogou tão mal como a do Benfica em Faro, mas teve o azar de enfrentar, todo o jogo, onze briosos pupilos do professor Nelo Vingada - e não nove, como seria desejável. Ainda por cima, sabe-se lá se para compensar a cartolina poupada a Polga, Peseiro substituiu Douala por Pinilla e o Sporting passou a jogar com dez. O chileno não acerta uma. E foi 0-0.
Em Aveiro, o futebol foi medíocre, mas o golo de Quaresma foi óptimo e o FCP lá se desenrascou, batendo injustamente o Beira Mar por 1-0. Já em Penafiel, parece-me que o Altíssimo também intercedeu pelo Benfica, "entortando" as botas de João Tomás e Cândido Costa, que falharam golos de baliza aberta e "cavaram" a derrota do Sporting de Braga (0-1). Acho que os bracarenses deviam pedir a interferência do seu teólogo, o cónego Melo. É que, tal como o futebol está por cá, só se vai lá com "milagres"!
Alfredo
barroso