Colonos ainda constroem em Netzarim

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Pedra sobre pedra, Yoshua Meshulami, imperturbável, continua a construir uma casa para o seu filho. No entanto, o colonato em que ele vive, Netzarim, será muito em breve apagado do mapa.

"Para nós, nada mudou. Eles ameaçam expulsar-nos mas nós, nós preparamo-nos para ficar construímos casas, cultivamos tomate e instalamos ar condicionado nas nossas casas", diz um colono de 70 anos com um sorriso, enquanto sobe a um andaime.

A maior parte dos 450 habitantes de Netzarim, um dos colonatos mais "ideológicos" da faixa de Gaza, dedicam-se normalmente às suas tarefas, fingindo indiferença à iminência da retirada de Gaza.

No entanto, caso não deixem voluntariamente as suas casas antes de segunda-feira, os soldados israelitas baterão à sua porta e dar-lhes-ão um prazo de dois dias para partir. Caso isso não suceda serão retirados à força.

"A vida deve continuar. Eu tenho a intenção de continuar aqui até à nossa vitória", diz Dan Safdie, um colono de 21 anos, que emigrou da Argentina há dez anos.

Juntamente com vários outros "voluntários", veio a Netzarim ajudar Yoshua Meshulami a construir a sua nova casa. "Ao longo da História, os judeus foram expulsos de diferentes locais, mas desta vez é diferente, porque são os nossos próprios irmãos que ameaçam agora expulsar-nos", diz.

Para convencer os colonos a partir pela sua própria vontade, o exército começou a evacuar há dias as suas posições no interior do colonato, que é o mais isolado de toda a faixa de Gaza, mas os habitantes não reagiram.

A casa, cuja construção está em curso, é um presente de casamento de Meshulami para um dos 17 filhos que trouxe consigo, quando se instalou no colonato há 12 anos.

"Uma parte do nosso povo é fraco e tem medo, mas isso não quer dizer que nós já não temos energia e que deixámos de cumprir a vontade de Deus, que nos enviou aqui", diz o septuagenário.

As fitas cor de laranja, símbolo dos que estão contra à retirada de Gaza, flutuam por toda a parte em Netzarim, um colonato rodea- do pelo Mediterrâneo, de um lado, e dois campos de refugiados palestinianos, do outro.

As viaturas dos colonos ostentam igualmente fitas e autocolantes laranja, enquanto os garotos envergam T-shirts e pulseiras da mesma cor.

"Viver como nós sempre fizemos é a nossa forma de protestar. Nós estamos em Israel e o nosso Governo não pode oferecer uma prenda aos terroristas", retirando-se de Gaza, diz Itzic Batzak, um colono de origem espanhola.

A partir da sua casa, um outro habitante, Boaz, de 72 anos, obser- va, rodeado por uma horda de crianças, os seus vizinhos que constroem uma nova casa. "Ninguém aqui faz as suas malas e este colonato vai continuar a aumentar", assegura, com o ar mais sério do mundo, este antigo professor.

* Jornalista da AFP

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