Coliseu esgota para ver e ouvir Camané
Do Coliseu, Camané guarda memórias distintas. Já actuou naquele palco juntamente com outros artistas, de Carlos do Carmo aos Humanos. Por lá se apresentou sempre que a Grande Noite do Fado o convocou. E foi aos dez anos, entre nervos e ganas de fadista quase formado, que para si próprio declarou: "É isto que quero fazer da minha voz." O mesmo Coliseu recebe hoje Camané, pela primeira vez num espectáculo em nome próprio.
A noite vai ser dedicada a Sempre de Mim, novo disco feito de "fados de sempre". Inéditos, mas "tradicionais, de uma natureza com história". Camané gravou com os músicos que bem conhece e com José Mário Branco na produção. Recolhendo poemas e estruturas musicais que as leis do fado ditam. "Como sempre", afirma o fadista. Mas Sempre de Mim entrou directamente para o primeiro lugar do top de discos mais vendidos em Portugal - "nunca passei do meio da tabela", recorda-nos. Hoje, ocupa o terceiro lugar e o Coliseu está totalmente esgotado. O que mudou? perguntamos a Camané: "Nada, não sei justificar este sucesso." Mas sabe que as opções que tomou ao longo dos anos foram as melhores: "A verdade e a autenticidade também vendem, também chegam ao público. Pode levar mais tempo, mas é possível."
Sempre de Mim ainda está em crescimento. "O fado é como qualquer canção, aceita as mutações que lhe servem, as cores que o vão vestindo de forma diferente sem lhe alterar a personalidade." O Coliseu recebe fados crescidos, com identidade. Os do disco, na íntegra, mas com algo mais para contar. E um tema extra, não incluído no álbum. "Vou cantar o Asas Fechadas, de Alain Oulman e Luís de Macedo", confessa. O único tema que gravou nas últimas sessões de estúdio que foi cantado por Amália Rodrigues.
Camané não é de fazer planos nem gerar expectativas. "Sempre quis actuar no Coliseu e esperava encher a sala", diz o fadista que já esgotou sete noites seguidas no Teatro São Luiz. Mas para lá da hora marcada, as incógnitas permanecem.|