Coliseu ainda com lugares disponíveisNey Matogrosso despiu (só) a voz para seduzir com 'Beijo Bandido'
Desengane-se quem pensa em reencontrar-se com o artista exuberante que elege a transgressão andrógina como principal arma em palco. Ney Matogrosso regressou a Portugal para apresentar o seu último álbum, Beijo Bandido, lançado em 2009, em que interpreta temas de grandes autores da música brasileira, dando a sua direcção às palavras de monstros sagrados, como Chico Buarque e Vinícius de Morais, e a temas intemporais, como Fascinação, uma adaptação escrita por Armando Louzada nos anos 40 e celebrizada décadas mais tarde por Elis Regina.
Este é precisamente um dos pontos altos de uma actuação que só sai de um registo mais melancólico a espaços, em canções como Bicho de Sete Cabeças, que segue na direcção dos ritmos tropicalistas.
Porém, no seu novo perfil, mais sóbrio, algo que se traduz no próprio guarda-roupa, mais uma vez desenhado por Ocimar Versolato, o artista matogrossense de 68 anos cola-se a uma pose mais introspectiva, com a voz a soar melodiosa sobre o quarteto acústico que o acompanha na tournée.
Ney veste-se de roupa, mas despoja-se dos efeitos sonoros. O aparente paradoxo faz sobressair a sua voz, ancorada pelo mérito de Leandro Braga (piano), Luís Coimbra (violoncelo e violão), Ricardo Amado (violino) e Felipe Roseno (percussão), que transpõem para o contacto directo com o público a intimidade presente nas 14 faixas gravadas em estúdio para o álbum.
As plumas e lantejoulas ficaram do lado de lá do Atlântico, tal como pôde constatar quem viu na noite de quinta-feira, no Coliseu do Porto, a primeira das três actuações em Portugal do artista brasileiro.
Com uma performance mais insinuante, em que não ficam de lado alguns laivos de provocação, Ney assume o papel de sedutor, despe o casaco como um ilusionista, explora a sua veia de dançarino, mas não sai do tom comedido e nem responde à interacção procurada pela plateia, certamente habituada a um registo mais festivo e não tão marcadamente romântico. Talvez por isso a relação com o público do Porto, totalmente disponível logo desde os primeiros acordes, tenha ficado em tom morno num concerto que não chegou a entrar em ponto de ebulição. Algo que também, em certa medida, se terá devido à duração: pouco mais de uma hora de espectáculo, com três encores à mistura, souberam indiscutivelmente a pouco a quem lotou os três mil lugares da mítica sala portuense.
? Depois de quinta-feira à noite o Coliseu do Porto ter enchido para ver Ney Matogrosso, hoje e amanhã é a vez do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, receber o espectáculo de apresentação de Beijo Bandido. E se para o dia de hoje já só há alguns lugares disponíveis na galeria de pé e em alguns camarotes, conforme confirmou o DN junto da bilheteira, para o espectáculo de amanhã há ainda muitos lugares disponíveis em todos sectores da sala lisboeta. Os bilhetes oscilam entre os 20 euros para a galeria em pé e os 55 euros na plateia, sendo que, nos camarotes, os ingressos podem chegar aos 270 euros.