Colecção 'Perfil' dedica CD a Alfredo Marceneiro

Vinte fados gravados por Alfredo Marceneiro entre 1960 e 1972 constituem o álbum dedicado ao fadista e compositor, da colecção 'Perfil' que tem editado nomes que marcam a música portuguesa.
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A maioria dos fados escolhidos -- 12 em 20 - são músicas da autoria de Alfredo Marceneiro, de seu nome verdadeiro, Alfredo Rodrigo Duarte.

'Além de uma referência como intérprete, Marceneiro foi importantíssimo. Compôs 18 ou 19 fados verdadeiramente tradicionais. Eu no meu livro dedico-lhe um capítulo, mas considero que este reconhecimento como compositor está por fazer', disse Daniel Gouveia, autor de 'Ao fado tudo se canta?', editado este ano.

O investigador salientou à Lusa o facto de 'todas as noites se cantar Marceneiro nas casas de fado'.

Referindo-se à importância de Marceneiro para 'a jovem geração fadista', Daniel Gouveia afirmou: 'julgo que principalmente apreendem, senão pressentem, a autenticidade que é a sua grande marca, tanto mais que coincide com a sua coerência de vida'.

'Não que os outros fadistas não fossem autênticos, mas ele foi coerente na vida, nunca quis ser estrela, recusou contratos para ir cantar ao estrangeiro, e nos últimos anos de vida só cantava em espaços de fado espontâneo', acrescentou.

Para o investigador a actual edição discográfica, com o selo da iPlay, 'é pedagógica, até pelo sentido de que saiu uma coisa nova e se vai à procura, logo descobre-se', mas lamentou não ter uma memória histórico-descritiva sobre o fadista, falecido em Lisboa em 1982.

A ficha técnica do CD regista os autores dos fados, data de gravação e os acompanhantes. Todos os fados foram gravados nos estúdios Valentim de Carvalho.

Nestas gravações Alfredo Marceneiro é acompanhado por nomes de referência como Francisco Carvalhinho, Martinho d'Assunção, José Nunes, Francisco Peres 'paquito', e o conjunto de guitarras de Raul Nery.

As mais recentes gravações, datadas de 1972, são 'Cabelo branco', 'Amor zagal', 'Oh águia', e 'Nos tempos em que eu cantava'.

'A Camponesa e o Pescador' (1960) interpretado em duo por Marceneiro e Fernanda Maria é a mais antiga.

O álbum inclui ainda outros duetos fadista, nomeadamente com o seu filho, Alfredo Duarte Júnior, 'Ser fadista' (1964), e com o fadista Fernando Farinha, 'Antes e depois' (1962).

Relativamente às gravações, e vincando a autenticidade do fadista, Daniel Gouveia recordou uma história quando o intérprete e compositor gravou o LP 'O fabuloso Marceneiro'.

'Entrou na Valentim de Carvalho, os mais modernos estúdios da altura, cheios de maquinaria, com tantos painéis ali à volta e microfones, e meteu-lhe aflição tudo aquilo, e para o evitar vendou os olhos com o cachené que usava habitualmente, e gravou os doze fados que compõem o LP', contou.

Alfredo Marceneiro oriundo de uma família do Cadaval nasceu em 1891 em Lisboa.

A sua longa carreira abrangeu praticamente todo o século XX, tendo-se distinguido como estilista [forma de variar dentro da mesma linha melódica] e compositor.

Alfredo Marceneiro cantou dos bailes de bairro aos cafés de camareiras, cégadas, e retiros até às casas de fado. Deixou numerosos discos, de que se destaca 'O fabuloso Marceneiro', mas escassos registos televisivos.

Veja o VÍDEO 'Cabelo Branco é Saudade', do fadista Alfredo Marceneiro:

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