Cofina despede no 'Correio da Manhã'
O grupo de comunicação Social Cofina avançou para o despedimento colectivo de dez trabalhadores do Correio da Manhã, o seu principal jornal e líder de vendas. A decisão foi anunciada ontem, numa reunião com os visados, ao final da manhã, na sede do jornal, em Lisboa. O grupo não confirma se as saídas se vão alargar a outros meios, nomeadamente do porta-fólio de revistas.
Ao que o DN apurou, estão englobados neste processo do CM sete jornalistas - Helena Mota (ex- -editora executiva e responsável pela revista social das sextas-feiras, a Vidas), Falcão Machado, Antunes Oliveira e Carlos Menezes, da redacção de Lisboa, Luís Lopes, ex--responsável pela Redacção do Porto, Mário Fernandes, da delegação de Braga, e Armando Alves, da delegação do Algarve -, um elemento do departamento de fotografia, João Capitão, o paginador Henrique Rijo e a comercial Beatriz Pinheiro.
Na maioria destes casos, segundo apurou o DN, já há alguns meses que o grupo estava em conversações com os trabalhadores no sentido de chegar a um acordo para a sua saída, o que nunca foi possível.
Por isso o grupo avançou agora para esta figura jurídica, usando o argumento dos maus resultados publicitários dos três primeiros meses deste ano (no ano passado a Cofina apresentou prejuízos, resultantes da sua participação na Zon, mas dos quais já recuperou no início de 2009). "Numa conjuntura de recessão como a que atravessamos e face à quebra significativa do mercado publicitário, a Cofina Media decidiu proceder a ligeiros ajustamentos na sua estrutura de pessoal, procedendo à dispensa de 10 colaboradores, através de um processo de despedimento colectivo", explicou fonte oficial do grupo ao DN.
As contas da Cofina relativas ao primeiro trimestre deste ano, divulgadas segunda-feira, apresentam receitas operacionais de 20,7 milhões de euros, uma quebra de 9,6% face ao mesmo período de 2008. Já os proveitos gerados pela circulação registaram um aumento de 2,8%, atingindo os 15,2 milhões de euros, enquanto as receitas publicitárias caíram 21,7%, cifrando-se agora em 11,2 milhões de euros. No caso específico do Correio da Manhã,a diminuição das receitas publicitárias nos primeiros três meses do ano, em relação ao mesmo período de 2008, foi de 14,9%, de acordo com os dados da Mediamonitor divulgados na terça-feira. Mesmo assim, este valores, apesar de significativos, ficam longe da média geral para a imprensa, que chegou a quebras de 20%, de acordo com a mesma fonte. Apesar da empresa, cotada em Bolsa, ter lucro, especialistas contactados pelo DN garantem que o motivo evocado permite legalmente usar a figura do despedimento colectivo.
Dentro do jornal há um sentimento de mau-estar, provocado sobretudo pela recente contratação de três novos colunistas que recebem acima de 4 mil euros.
O Sindicato dos Jornalistas, no entanto, já reagiu a esta situação, condenando "vivamente o procedimento seguido pela empresa, por não encontrar motivos válidos" para este processo. Recorde-se que este não é caso único na empresa: no início do ano, outro dos seus jornais, o Record, foi alvo de um despedimento colectivo que abrangeu dez colaboradores.
Para Luís Campos Ferreira, deputado do PSD, "este é mais um sinal da debilidade económica do sector", e lembra o pedido de audição à Confederação Portuguesa dos Meios de Comunicação Social, ao Sindicato dos Jornalistas e ainda à Associação de Anunciantes, em sede de comissão, para se perceber a real situação do sector.
Pedro Mota Soares, do CDS-PP, refere a proposta apresentada ao Governo pela Confederação de Meios - que sugere incentivos fiscais para as empresas anunciantes e ainda um aumento do investimento publicitário por parte do Estado - como um ponto de partida para a discussão do que poderá ser feito neste sector.
A psicologia da crise, o endividamento acumulado ao longo dos anos e as mais recentes políticas do Governo nesta área são, para Bruno Dias, do PCP, as principais razões que ditam a actual situação dos media nacionais. E, destaca, "nem todos os despedimentos se devem às quebras publicitárias, situação que é necessário desmistificar".
Estes processos do grupo Cofina vêm juntar-se aos já conhecidos da Controlinveste (118 trabalhadores), da Impala (20) e ainda ao anunciado no início desta semana pela Media Capital Edições, detida pela Progresa da espanhola Prisa, que iniciou um despedimento colectivo de 12 funcionários, medida que se insere na estratégia do grupo Prisa.