Os cães da vizinhança ladraram, mas, ninguém terá detectado a entrada de estranhos nas instalações do Clube de Futebol Os Marialvas (Cantanhede). Naquela madrugada, já terça-feira, feriado, desapareceram, apenas os equipamentos novos, acabados de estrear. Um prejuízo de quatro mil euros, segundo as contas da direcção, para um clube que pede mensalmente aos sócios entre dois a 2,5 euros..A lista dos bens desaparecidos é extensa e já foi entregue aos militares do posto da GNR daquela cidade: o equipamento de ultra-sons que estava no posto médico (custo estimado em três mil euros), três sacos com um total de 30 bolas de jogo, uma caixa com equipamento alternativo, dois cestos para levar o equipamento de jogo para o campo, todo o equipamento da equipa sénior, meias novas, chuteiras. Equipamento de competição, utilizado duas vezes, vestuário personalizado com a chancela deste clube que nasceu em Cantanhede a 21 de Setembro de 1932. Depois da derrota frente à Académica que disputaram no Estádio Universitário, em Coimbra, eis que surge mais este contratempo.."É um rombo para as contas do clube", afirma ao DN o presidente da colectividade, Luís Geraldes, que agora prevê retirar dinheiro do orçamento para pagar este prejuízo. O dirigente desconfia deste assalto cirúrgico: "É algo muito estranho, por só terem levado coisas praticamente a estrear. Nem levaram uma televisão, nem um pequeno cofre..." .Antes de mostrar a porta arrombada da rouparia, no interior dos balneários do campo municipal, Carlos Oliveira, ex-guarda redes, mostra ao DN a fechadura da porta que dá acesso ao local do assalto: "Está intacta, quando aqui cheguei e vi o que tinha acontecido, estranhei logo porque esta porta não estava devidamente fechada, tinha uma fresta. Até parece que quem entrou, tem a chave!" .Carlos Oliveira, prestes a completar 65 anos, foi guarda-redes do clube na década de 70 do século passado e é o roupeiro há 28 anos: "Já tinha havido aqui umas coisitas, mas nada assim. Descobri isto quando vim às máquinas [de lavar roupa]. Sou eu e a minha mulher que tratamos desta parte. Quando cheguei estava aqui tudo espalhado, viraram as caixas todas para o chão." .O presidente deste clube que milita na Divisão de Honra da Associação de Futebol de Coimbra também revela ao DN outras ocorrências, com danos menos gravosos, desaparecimento de choco-lates e bebidas. "Agora foi mais complicado, até porque são equipamentos que precisamos no imediato. É mais uma despesa a sair do orçamento do clube, temos de comprar tudo rapidamente...", diz Luís Geraldes. .Há duas hipóteses para o próximo jogo: ou os atletas entram em campo com equipamentos alternativos - todos de cor branca, e com os patrocínios desactualizados - ou o clube vai rapidamente às compras para adquirir camisolas, calções e meias. A próxima jornada será disputada com o Vinha da Rainha (Soure). .Este clube, do qual Luís Filipe é o seu jogador mais mediático (por ter jogado no Benfica, por exemplo), tem um orçamento anual de 30 mil euros e tem 420 sócios. E muitos atletas das escolinhas (dos quatro aos oito anos), infantis, iniciados, juvenis, júniores e séniores.