Clientela estrangeira salva Martinho da Arcada

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O Martinho da Arcada, na Praça do Comércio, em Lisboa, atravessou 225 anos de história, mas o seu passado mantém-se quase intacto. Só os mais atentos pressentem as mudanças que nos últimos anos entraram no mais antigo café da capital.

As primeiras alterações começaram pela cozinha. Basta abrir a ementa para perceber isso. Entre a feijoada à transmontana e o bacalhau de todos os feitios e maneiras, descobrem-se outras variedades que não pertencem à gastronomia típica portuguesa - caril à moda de Durban ou bife de lombo são só alguns exemplos.

"Fizemos questão de conservar uma cozinha caseira, mas tivemos de adaptar alguns dos sabores aos gostos dos turistas", confessa António de Sousa, proprietário do Martinho da Arcada.

Japoneses, brasileiros, gregos ou italianos são os novos clientes de António de Sousa. São os estrangeiros, aliás, que permitem ao Martinho da Arcada comemorar hoje os 225 anos de existência. Com a saída da Bolsa de Valores do Terreiro do Paço, o encerramento dos escritórios dos Despachantes Oficiais ou fim do estacionamento na praça, o Martinho da Arcada estremeceu. "Os portugueses foram-se embora, mas valeram-nos os turistas que aqui entram durante o ano inteiro", explica.

António de Sousa passou então a desempenhar outras funções além de gerente deste café-restaurante. Desde o início da década de 90 do século passado que é também o embaixador de Fernando Pessoa em Lisboa. Abre a porta do estabelecimento a viajantes da Malásia, de Cuba, da Finlândia ou dos Estados Unidos, que todos os dias se sentam à mesa de pedra-mármore onde o poeta escreveu parte da Mensagem. "O Pessoa deambula pelos quatro cantos do mundo", diz António de Sousa. E o Martinho da Arcada viaja ao lado do poeta.

Há, no entanto, alguns portugueses que continuam fiéis ao espaço outrora frequentado por Pessoa. "Hoje, é a classe dirigente que mais frequenta o Martinho. Os governantes vizinhos tornaram-se visita da casa e até chegam a pedir refeições para o gabinete, quando a sala está cheia", confidencia o proprietário deste bicentenário café.

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