Nick Clegg não se conforma. Não se conforma e, por isso, não desiste. Ex-líder dos liberais-democratas britânicos e ex-vice-primeiro-ministro de David Cameron, Clegg escreveu um livro a explicar aos eleitores anti-brexit que ainda é possível travar a saída dos britânicos da União Europeia e, em 160 páginas, apresenta sugestões de como pensa ser possível fazê-lo. Dedicado tanto aos que sempre foram contra o brexit como aos que se arrependeram rapidamente de ter votado pela saída no referendo de 2016, é hoje publicado How To Stop Brexit (And Make Britain Great Again). Sim, parte do título faz lembrar o slogan de campanha de Donald Trump (Make America Great Again).."Não há nada de inevitável no brexit a não ser o facto de ele ser extremamente nocivo se acontecer. Numa democracia todos têm direito a mudar de ideias", escreveu Clegg na sua conta de Facebook. O ex-vice-primeiro-ministro de Cameron, entre 2010 e 2015, diz ser um mito a versão de que a ativação do artigo 50.º do Tratado de Lisboa (através da qual o Reino Unido pediu para sair da União Europeia) é algo irreversível e sugere um segundo referendo sobre o assunto. No de 23 de junho de 2016, 52% dos eleitores votaram favoralmente ao brexit, 48% contra a saída da UE. No livro, do qual foram já publicados alguns excertos nos media britânicos, Clegg, de 50 anos, sugere a formação de uma convenção especial sobre a UE e o Reino Unido, presidida por John Major e Mark Rutte, ex-primeiro-ministro britânico e atual primeiro-ministro holandês. A sua tarefa seria a de "reposicionar o Reino Unido numa Europa reformada". Essa é, aliás, uma ideia que tem vindo a trabalhar no Open Reanson, o think tank que criou em 2015..Mas além disso, o político, que perdeu o seu lugar de deputado nas legislativas de 8 junho deste ano, sugere que os eleitores pressionem os dois maiores partidos representados na Câmara dos Comuns: o Labour de Jeremy Corbyn e os Tories de Theresa May. O primeiro é o líder da oposição e é de esquerda, a segunda é a atual primeira-ministra britânica e é conservadora. Nos últimos dias, tanto um como outro, em entrevistas ou no debate de ontem no parlamento de Westminster, se escusaram a dizer como votariam caso houvesse um segundo referendo sobre o Reino Unido e a UE. "Não há nenhum referendo em perspetiva neste momento", declarou o porta-voz de Corbyn ao jornalista do FT Jim Pickard. "Não há nenhum segundo referendo. As pessoas do Reino Unido votaram e sairão da UE em março de 2019", disse May, durante a habitual sessão semanal de perguntas ao primeiro-ministro. A líder conservadora garantiu ainda que não está a tentar estender as negociações do brexit para além do prazo e frisou, de novo, 2019 como data limite para um acordo com as instituições e os parceiros da UE..Mas como quer Clegg que os eleitores britânicos, sobretudo aqueles que ele diz não terem um partido ou estarem arrependidos por terem apoiado a saída da UE, pressionem o Labour e os Tories? É simples, pelo menos para ele. Devem filiar-se num dos dois partidos, que são maioritários no parlamento, bombardeando em seguida os deputados desses partidos com exigências no sentido de reverter o brexit. No livro Nick Clegg escreve: "Num momento de emergência nacional e enquanto o parlamento for dominado pelo Labour e Tories (...) se não suportar aderir ao Labour, se estiver inclinado para os conservadores ou achar que o brexit é a maior questão de todos os tempos, então filiar-se nos conservadores é também uma boa forma de fazer com que os seus pontos de vista sejam levados em consideração"..O BREXIT EM DATAS.23 de junho de 2016 Num referendo prometido por David Cameron, 52% dos eleitores votaram a favor da saída do Reino Unido da UE, 48% votaram contra. Cameron demitiu-se de primeiro-ministro após o resultado, tendo sido substituído em Downing Street por Theresa May 29 de março de 2017 Theresa May aciona o artigo 50.º do Tratado de Lisboa, através do qual um país pede para sair da União Europeia. Inicia-se um período de negociações de dois anos 8 de junho de 2017 Britânicos vão às urnas para votar em eleições legislativas antecipadas. May optou por esta via para se relegitimar perante os britânicos antes de começar a negociar o brexit com os parceiros europeus, mas caiu abruptamente nas sondagens no espaço de um mês e quando chegou a 8 de junho os Tories, seu partido, ganharam, sim, mas falharam a maioria absoluta 19 de junho de 2017 Início formal das negociações do brexit entre o Reino Unido e Bruxelas. Do lado europeu, os negociadores chefe são Michel Barnier, pela Comissão Europeia, Donald Tusk, pelo Conselho Europeu, Guy Verhofstadt, pelo Parlamento Europeu. Do lado britânico é o ministro do brexit David Davis. Um dos dossiês que maior discórdia tem gerado é o dos direitos que os cidadãos comunitários teriam ou deixariam de ter no Reino Unido a seguir ao brexit. Alguma confusão tem reinado, com algumas vozes a falarem em hard brexit, outras em soft brexit. Outras ainda, começam a falar em segundo referendo 9 de outubro de 2017 Início da quinta ronda de negociações do brexit entre o Reino Unido e Bruxelas. No dia 10, numa entrevista, a primeira-ministra Theresa May recusa dizer como votaria se houvesse um segundo referendo. Ontem voltou a recusar fazê-lo e garantiu que o país estará fora da UE em 2019. Hoje está prevista uma conferência de imprensa do negociador chefe da Comissão Europeia Michel Barnier e do ministro britânico do brexit David Davis. Está também prevista a publicação do livro de Nick Clegg, sobre como travar o brexit