Claude Bussac: "De certeza que encontraremos a oportunidade de voltar a fazer um PhotoPortugal"
A bandeira amarela com letras pretas - PHE18 - que indica que ali está a decorrer uma exposição/ evento/ atividade relacionado com a fotografia está espalhada por Madrid e arredores. Entre museus, fundações, centro culturais e galerias que fazem a programação paralela, são 76 os locais onde, até ao final de agosto (alguns setembro adentro), se pode ver a programação do Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais.
A PhotoEspaña, a fazer 20 anos, mostra o trabalho de 530 artistas nas suas 90 exposições. Quando começou, a fotografia era analógica e os fotógrafos ainda guerreavam para serem chamados de artistas. E quando a francesa Claude Bussac entrou na direção do festival internacional de fotografia, há pouco mais de uma década, os desafios do digital adivinhavam-se. Hoje, num festival que também tem as Artes Visuais na designação e "no século da imagem", como lhe chama a diretora, a foto é de todos e outras perguntas estão a ser feitas - o papel do autor e a importância de educar o olhar como se educa a mão para escrever.
Estão a fazer 20 anos. É preciso fazer um balanço. O que mudou em Espanha com a PhotoEspaña?
Tudo. Há 20 anos quase não havia exposições de fotografia na cidade, nem galerias especializadas. O festival nasceu para promover a fotografia e reivindicar o seu papel no mundo da arte, o que agora não se questiona. A fotografia está em todas as galerias e museus. E isso muda completamente o papel de PhotoEspaña.
Que desafios enfrentam hoje? Qual é o papel de um festival de fotografia?
O grande desafio do festival é educar o olhar do público, porque vivemos num mundo de imagens, O século XXI é o século das imagens, mas passa-se um pouco como a literatura. Não porque todos saibam escrever isso quer dizer que todos sejam escritores ou prémios Nobel. A fotografia está à mão de toda a gente, democratizou-se, e isso está bem, agora o nosso papel agora é reivindicar o papel do autor na fotografia.
Como se pode educar o olhar do público?
O festival é grande e diverso e permite que as pessoas entrem por muitas portas. Se não entrar por uma, pode escolher outra. Talvez vá ver fotografia de moda e depois tenham curiosidade por outras exposições. Ou seja uruguaio e vá ver os fotógrafos uruguaios e isso o leve a outras... não sabemos. O que é importante é ter um olhar mais crítico e menos homogeneizado, porque infelizmente na Internet e no Instagram há uma grande homogeneização. Existem diversas formas, desde logo com uma grande exigência de qualidade e ter um papel de mediador nas diversas atividades, para que o público participe, todos os públicos, desde muito pequenos, e que se implique. É como em tudo na cultura. Estamos num tempo em que há uma quantidade enorme de imagens e é preciso educar o olhar para criar um sentido crítico, para entender refletir sobre o mundo.
Já fizeram o PhotoPortugal. Pensam voltar a repeti-lo?
Fizemos um PhotoBrasil e continuamos a colaborar com o Brasil. Já tivemos um PhotoPortugal, uma parceria com o Ministério da Cultura. Interrompemos e não sabemos quando voltamos. De certeza que encontraremos a oportunidade de voltar a fazer um PhotoPortugal.
Qual é o investimento num festival desta dimensão?
Em tempo ou em dinheiro?
O tempo suponho que não consigam contabilizar.
Não! [Risos] Em dinheiro, estamos em torno dos 3 milhões de euros, mas são contas que não estão fechadas, porque existem parcerias com outras instituições.
A fotógrafa Cristina de Middel teve uma exposição há dois anos, este ano deram-lhe a "carta branca". Há um ano, foi o papel de Alberto García-Allix, de quem mostram este ano um documentário. Procuram deixar pistas de um ano para o outro?
Não o fazemos de forma consciente. Estas coisas resultam de muitas conversas, de muito afinamento. São conversas que duram muito tempo e é normal que algumas coisas vão passando de ano para ano. Porque se trata de um fio de conversações que se vão mantendo. Fico contente que isso se note, mas não é intencional.