A primeira vítima da antecipação das eleições legislativas em Espanha é o Ciudadanos, que confirmou que não irá a votos no dia 23 de julho - depois de sucessivos maus resultados eleitorais do partido de centro que já chegou a ser o terceiro maior do país. À esquerda dos socialistas, e com poucos dias para um acordo com o Podemos, o movimento Sumar da vice-primeira-ministra Yolanda Díaz constituiu-se como partido para facilitar a participação de independentes no projeto e a união do campo progressista.."A mensagem das eleições foi muito clara. A oferta do centro liberal em Espanha não teve força", disse ontem o atual secretário-geral do Ciudadanos, Adrián Vázquez, depois da reunião da direção nacional. "Chegámos à conclusão que os espanhóis não nos veem como uma boa alternativa transformadora. Não é uma boa notícias para nós", acrescentou, dizendo que ficar de fora do próximo ciclo eleitoral permite ao partido - que não se dissolve para já - preparar-se "para o novo cenário político"..O Ciudadanos, que nas municipais de 2019 tinha sido o terceiro partido mais votado, não foi além dos 1,35% no domingo. Um resultado que confirmou o desaire das legislativas de novembro de 2019, em que tinha passado de 15,9% e 57 deputados eleitos sete meses antes (o seu melhor resultado) para 6,8% e 10 deputados. Essa queda levou à saída do líder, Albert Rivera, não tendo o partido conseguido renovar-se sob a liderança de Inés Arrimadas - que ganhara na Catalunha em 2017, mas sem maioria para derrubar os independentistas. Um grande encontro nacional do partido decidirá o futuro, em julho..O líder do Partido Popular (PP), Alberto Núñez Feijóo, agradeceu o gesto ainda antes de ele ser tomado, defendendo que esta seria a melhor solução. "Seria um exercício de maturidade e responsabilidade", afirmou. "Não podemos deixar que uns poucos votos se percam e não se traduzam em lugares e impeçam as maiorias para que governe um partido reformista como é o PP." E deixou um convite aos eleitores do Ciudadanos: "Esta casa reformista é vossa para sempre." O PP já tinha "engolido" alguns dos nomes que estiveram ligados ao Ciudadanos e cresceu nas municipais em parte devido aos eleitores do partido de centro..Na reunião da direção do PP, Feijóo deu liberdade aos "barões" do partido para negociarem ou não com a extrema-direita do Vox, de Santiago Abascal. O PP teve um grande resultado, mas só duas maioria absolutas, precisando de acordos para garantir as investiduras na Comunidade Valenciana, Aragão, Múrcia, Baleares ou Extremadura. Neste último caso, o atual presidente, o socialista Guillermo Fernández Vara, foi o vencedor, com o mesmo número de deputados regionais que o PP mas sem hipóteses de maioria com a esquerda. Apesar de inicialmente ter dito que desistia da política, ontem voltou atrás e vai tentar a investidura..Mas ainda antes de negociar com o Vox, há "barões" do PP dispostos a ir à investidura sem a maioria, obrigando o partido de Abascal a votar "não". Uma posição de força antes das legislativas, tirando argumentos ao primeiro-ministro Pedro Sánchez, que espera fazer campanha alertando para o risco dos acordos à direita..Entretanto, Yolanda Díaz oficializou a criação do Movimento Sumar, um "partido instrumental" para ser "o coração do projeto", que quer conseguir agregar à sua volta tudo o que está à esquerda dos socialistas. A criação do partido permite incluir nas listas independentes e facilita as coligações com outras forças..É o caso da Esquerda Unida, o outro lado da Unidas-Podemos, que foi a primeira a aliar-se de forma oficial à candidatura do Sumar. "São a melhor oportunidade para oferecer esse projeto de país e ganhar as legislativas", disse a formação liderada por Alberto Garzón. "Nem um minuto a perder", acrescentou em comunicado no Twitter. Os Verdes Equo e a Aliança Verde também já deram o mesmo passo..Entretanto, seguem as negociações com o Podemos, da ministra dos Direitos Sociais, Ione Belarra. Os prazos apertados - a coligação tem que ser oficializada até dia 9 de junho - torna complicada a ideia de primárias, que eram a aposta do Podemos. O rápido apoio das outras forças políticas a Díaz serve também para pressionar ainda mais o Podemos a ceder..9 de junho Data limite para apresentação das alianças e coligações. 14 a 19 de junho Apresentação de candidaturas, que são divulgadas no dia 21 e publicadas no Boletim Oficial do Estado no dia 27. 7 a 21 de julho Campanha eleitoral. 13 de julho Fim do prazo para pedir o voto pelo correio, com os eleitores a poder votar dessa forma o mais tardar até 20 de julho. 23 de julho Eleições legislativas. 17 de agosto Data limite para que o Congresso e o Senado tomem posse. Dois meses Prazo que o Congresso tem para, após tomar posse, eleger o chefe de governo. Se fracassar, será preciso ir de novo a votos..susana.f.salvador@dn.pt