Cinemateca dedica mês de março a Hitchcock
A história da redescoberta do cinema de Hitchcock deve tudo a um título de 1958 que, curiosamente, começou por receber críticas controversas e uma recepção pública morna mas que, com o tempo, foi reavaliado como... o melhor filme de todos os tempos. Falamos naturalmente de Vertigo (ou, se quisermos, A Mulher que viveu Duas Vezes), assim considerado em 2012 pelos críticos, programadores e realizadores convidados pela revista internacional de cinema Sight & Sound. Da distinção passou-se para a sua reposição comercial em Portugal pela Midas Filmes (que repôs também recentemente uma das suas obras-primas, Psico, de 1960). E, ainda, para a produção de um filme (Hitchcock, de Sacha Gervasi, representado nos últimos Óscares devido à caracterização de Anthony Hopkins) e de um telefilme (The Girl, de Julian Jarrold, estreado na HBO) - o primeiro em torno da figura do realizador aquando da feitura de Psico, e o segundo debruçado na sua relação com a atriz Tippi Hedren, que protagoniza Os Pássaros (1963) e Marnie (1964).
São razões mais do que suficientes - "como se precisássemos de pretexto para voltar a Hitchcock", lê-se na breve introdução ao ciclo no programa de março - para que viajemos numa retrospetiva que, apesar de não ser integral (a Cinemateca já realizou uma por duas vezes), integra filmes que nos localizam nas diversas fases criativas e contextos de produção do cineasta.
É, por exemplo, o caso de Rebecca (1940) que, ao lado de Blackmail (1929), abre hoje o programa dedicado a Hitchcock (o primeiro às 19:00, o segundo às 21:30). Se Blackmail representa a saída do cineasta do mudo (é, aliás, o primeiro sonoro inglês), reconhecemos Rebecca por ser o filme que marca a sua entrada em Hollywood. É, também muito curiosamente, o seu primeiro e único Óscar de melhor filme - entregue a uma jornada, sem dúvida vertiginosa, para uma mansão, assombrada por memórias do passado, onde a protagonista (interpretada por uma maravilhosa Joan Fontaine) se acaba de mudar como segunda mulher de um homem de condição social muito mais elevada.
O ciclo da Cinemateca seguirá a obra de Hitchcock cronologicamente até ao fim do mês, desde Blackmail e a sua fase britânica a filmes tão destacados como Janela Indiscreta (1954) e últimas obras-primas (o último a ser exibido é o alucinante e por vezes incompreendido Frenzy - Perigo na Noite, de 1972, o seu penúltimo filme que é também um regresso às origens londrinas).
Mas não teremos apenas Alfred Hitchcock neste mês de março na Cinemateca Portuguesa. Entre os diversos filmes integrados na programação teremos a oportunidade de assistir a quatro sessões de ante-estreias (entre elas encontramos Leonor Noivo, que apresentará no dia 8, às 21:30, os filmes A Cidade e o Sol e ainda Outras Cartas ou O Amor Inventado). Eduardo Paz Ferreira apresentará O Homem que Matou Liberty Valance, de John Ford, no dia 14 (21:30) e Alberto Seixas Santos prosseguirá as suas apresentações, este mês com A Comédia e a Vida (1952), de Jean Renoir, no dia 28 (19:00).