Cineasta judeu quebra tabu com comédia sobre Hitler
Tanto as sensibilidades alemãs como judias vão ser postas à prova no próximo dia 11 de Janeiro com a estreia em Berlim de uma nova comédia alemã: Meu Líder: a Verdade mesmo mais Verdadeira sobre Adolf Hitler. O filme é protagonizado por Helge Schneider, músico e actor de 51 anos que transforma o ditador alemão, Adolf Hitler, numa espécie de comediante durante 90 minutos.
A acção decorre nos dias que antecedem o ano novo de 1945, com a cidade de Berlim em ruínas e um Hitler derrotado, depressivo e sem capacidade para falar ao seu povo. O ministro da propaganda, Goebbels, encontra então a solução num prisioneiro judeu, Adolf Grünbaum, personagem fictícia que vai treinar e escrever os discursos do Führer. A intenção do prisioneiro judeu é matar Hitler, mas não chega a concretizar os seus planos porque este acaba por se suicidar. Durante o filme há ainda cenas que ridicularizam o ditador, como aquela em que ensina o seu cão a fazer a saudação nazi "Heil Hitler", outra em que se diverte com brinquedos numa banheira ou ainda aquelas em que surge como impotente e viciado em drogas.
O realizador é Dani Levy, de ascendência judia, nascido na Suíça há 49 anos e que vive em Berlim desde a década de 80. Levy acha que não há nada de errado com uma paródia sobre o tempo da ditadura nazi e para isso contou com o apoio e ajuda da mãe, uma vez que esta é também uma das sobreviventes da época conturbada do Holocausto. Durante anos, Levy teve curiosidade em saber por que razão tantos alemães seguiram Hitler.
À semelhanca do filme A Vida é Bela, de Roberto Benigni, que em 1997 também quebrou um tabu, Levy afirma que é importante mostrar o tema do Holocausto e do nazismo, sempre tão complicados e polémicos, sob perspectivas diferentes.
Durante décadas, o cinema alemão tem evitado o tema. O único filme que retrata a vida do Führer nos últimos dez dias, A Queda: Hitler e o Fim do Terceiro Reich, de Oliver Hirschbiegel, não foi consensual quando estreou em 2004, embora tenha sido um êxito de bilheteira na Alemanha. Na verdade, a imagem do ditador é ainda um fantasma desconfortável na sociedade alemã.
O realizador Dani Levy conta no seu currículo com dois prémios conquistados em 2004, para melhor realização e melhor filme nos German Films Awards, com o seu trabalho Go for Zucker, uma comédia patrocinada pela televisão pública alemã que conta a forma como os judeus viveram e encararam a reunificação da Alemanha, nos anos 90. O interesse na era nazi parece estar a ser reavivado por filmes recentes, documentários e livros, alguns deles alvos de polémica.