Patriarcado de Lisboa tem no ativo cinco padres suspeitos de abusos. Diocese do Porto identificou sete

O Patriarcado de Lisboa recebeu lista de 24 nomes, mas só cinco estão no ativo. Só serão afastados depois de ter as "recomendações que lhe permitam fundamentar" a suspensão. A Diocese do Porto identificou sete em funções e já enviou os nomes para o Ministério Público
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A Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis do Patriarcado de Lisboa revelou que recebeu uma lista de 24 nomes de padres suspeitos de abusos sexuais, enviada pela Comissão Independente ao Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

Por sua vez, a Diocese do Porto informou também esta quinta-feira que a Comissão Independente entregou uma "lista de alegados abusadores que continha 12 nomes", dos quais apenas sete se encontram no ativo.

Numa nota enviada às redações, o Patriarcado de Lisboa informa que, desses 24 nomes, cinco são de sacerdotes no ativo. Os restantes são de oito já falecidos, dois de doentes e retirados, três sem qualquer nomeação, quatro desconhecidos, um leigo e outro que abandonou o sacerdócio.

No entanto, os padres no ativo só serão afastados depois de o Patriarcado receber por parte da Comissão Independente as "recomendações que lhe permitam fundamentar a proibição do exercício público do ministério dos sacerdotes.

"Esta Comissão Diocesana solicitou de imediato, à Comissão Independente, os dados respeitantes à lista nominal, de forma a tornar possível a entrega ao Cardeal-Patriarca das recomendações que lhe permitam fundamentar a proibição do exercício público do ministério dos sacerdotes no ativo e assunção das devidas responsabilidades no apoio e respeito pela dignidade das vítimas", pode ler-se.

"Assinado o protocolo de colaboração com a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima), o Patriarcado de Lisboa prossegue a sua determinação em erradicar o drama dos abusos contra menores e adultos vulneráveis, não só na área da prevenção, mas também no apoio que desejamos prestar a todas as vítimas, que permanecem no centro de todas as prioridades do trabalho desenvolvido por esta Comissão Diocesana", acrescenta a nota.

Estando efetivada a saída dos sacerdotes que integravam esta Comissão Diocesana, foi eleito como seu moderador interino o antigo Procurador-geral da República José Adriano Machado Souto de Moura.

Também a Diocese do Porto revelou esta quinta-feira, em comunicado, que a Comissão Independente entregou uma lista de 12 alegados abusadores, dos quais apenas sete se encontram em funções. Isto porque "quatro já faleceram e um já não pertence à diocese".

"Por informação oral do Grupo de Investigação Histórica, ficou-se a saber que as denúncias se reportam às décadas de 1970 e 1980", acrescenta a diocese, revelando que "imediatamente foi iniciada a investigação prévia a respeito dos sete clérigos vivos".

"Nos arquivos diocesanos, não se encontra qualquer indício de possíveis crimes de abusos, tal como, aliás, o Grupo de Investigação Histórica já tinha verificado. À Comissão Diocesana para o Cuidado dos Frágeis também não chegou qualquer denúncia relativamente a estes nomes", acrescenta.

De qualquer forma, a Diocese do Porto garante que "se, entretanto, aparecerem indícios fiáveis, o bispo diocesano não hesitará em suspender preventivamente o clérigo em causa", acrescentando que "o bispo diocesano já entregou ao Ministério Público a lista recebida da Comissão Independente". Isto depois de ​​​​​​​já ter reunido "com diversas pessoas, algumas das quais já não vivem na área da Diocese do Porto, à procura de eventuais informações complementares", nesse sentido assegura que "estas diligências não conduziram a qualquer pista".

Em comunicado, o prelado adianta que, em relação ao sacerdote investigado, "o Dicastério da Doutrina da Fé [Vaticano] (...) pede que o bispo diocesano continue a exercer o direito de vigilância".

"A diocese de Aveiro solicitou também à respetiva Comissão Diocesana para a Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis que desenvolva iniciativas de formação com sacerdotes, catequistas e responsáveis das Instituições de Solidariedade Social da área da diocese, em ordem a aprofundar a sensibilização de todos para a relevância deste tema, de modo a prevenir possíveis abusos", acrescenta o comunicado do bispo de Aveiro.

António Moiteiro Ramos assegura, por outro lado, que, "no que diz respeito ao apoio às vítimas, a diocese estará disponível para facultar apoio médico que venha a mostrar-se necessário".

"A Diocese de Aveiro compromete-se a tudo fazer para que estas situações dolorosas não voltem a acontecer no seio da comunidade cristã e reafirma, mais uma vez, 'tolerância zero' para os abusos de menores e pessoas vulneráveis", conclui o comunicado.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.

Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.

No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais "devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'" deste fenómeno.

A comissão entregou aos bispos diocesanos listas de alegados abusadores, alguns ainda no ativo.

Na quarta-feira, a diocese de Angra, nos Açores, e a arquidiocese de Évora, anunciaram a suspensão cautelar de três sacerdotes, enquanto decorrem investigações sobre alegados casos de abuso por eles praticados.

A diocese da Guarda anunciou esta sexta-feira a suspensão de um padre e a abertura de uma investigação.

Com Lusa

Notícia atualizada às 17:02

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