Cinco anos em média para iniciar tratamento
Qual é a posição de Portugal em relação a outros países quando falamos de depressão?
Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou que, entre os nove países da Europa que o integraram, tivemos a 4º maior prevalência de perturbações do humor, de que as depressivas são o grupo mais expressivo. Mas com uma particularidade muito preocupante: ao analisarmos o intervalo entre o início do aparecimento dos sintomas e o seu tratamento, verificamos que em Portugal a média para as perturbações depressivas em geral é de cinco anos e de quatro anos na forma mais grave, a que em todo o mundo mais está na base do suicídio. Valor que significa que no 1.º ano de aparecimento daquela doença só 37,4 pessoas em cada 100 procurou um médico.
Quais são os grupos mais vulneráveis à depressão?
Os principais são os idosos, fruto da solidão, de doença crónica e incapacitante. Cerca de 20% das pessoas mais velhas vive só e 40% com outra pessoa idosa. Nem sempre os médicos se lembram que a depressão neste grupo não se manifesta muito por tristeza, mas por défices cognitivos (breves períodos de desorientação, esquecimentos). O suicídio, nomeadamente acima dos 75 anos, continua a ser o mais expressivo, em particular em homens, vivendo sós e com doenças crónicas e incapacitantes.
Que balanço faz da implementação do Plano Nacional de Saúde Mental?
A avaliação pela OMS, em 2011, e pela Entidade Reguladora da Saúde, em 2015, foram positivos. Igual opinião teve a União Europeia (UE), que convidou Portugal a coordenar a Joint Action on Mental Health and Wellbeing 2013-2016 e cujas conclusões foram adotadas como "Linhas de orientação estratégica para a Saúde Mental e Bem--Estar da UE". Mas importa não dormirmos ao sol, pois o desinvestimento dos últimos anos já mostra moças. De salientar o facto de finalmente se arrancar com os cuidados continuados de saúde mental e de ser apresentado dia 27 um projeto com a proposta de um novo modelo de governação e financiamento que viabilizará as equipas comunitárias.