Cimeira UE-China: "Temos uma relação complexa com Pequim"

Bruxelas pressiona Pequim para travar vendas ao exército russo e impedir fuga às sanções europeias à Rússia.
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A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou ontem em Pequim, no final da cimeira da União Europeia com a China, que aproveitou o momento para "explicar as preocupações e as expectativas" europeias "aos dirigentes chineses" sobre a relação "complexa" entre os dois blocos. Von der Leyen terminou o encontro ciente de que ainda será necessário "procurar progressos" em temas "fundamentais", dando como exemplos "o comércio e investimento, [e] a economia".

"Comercializamos 2,3 mil milhões de euros de mercadorias todos os dias", disse Von der Leyen ao presidente chinês, Xi Jinping, para demonstrar "a importância das relações comerciais com a China". Porém, notou que a balança comercial é "criticamente desequilibrada". A presidente da Comissão lembrou que "o nosso défice comercial atingiu quase 400 mil milhões de euros", ao passo que "há 20 anos era dez vezes menor", ou seja, "40 mil milhões de euros", sublinhando que o défice comercial duplicou só nos últimos dois anos.

"Este facto é motivo de grande preocupação", admitiu a chefe do executivo comunitário, a qual vincou aos "representantes chineses" que estes "desequilíbrios são simplesmente insustentáveis" e têm "causas profundas bem conhecidas", amplamente discutidas com Pequim. "Vão desde a falta de acesso das empresas europeias ao mercado chinês, ao tratamento preferencial das empresas chinesas nacionais e à sobrecapacidade da produção chinesa". E, embora haja "diferentes regiões que já estão a fechar os seus mercados aos produtos chineses", a base industrial europeia "é prejudicada pela concorrência desleal". E, isso, "os dirigentes europeus não vão poder tolerar", vincou perante Xi Jinping.

"Congratulo-me por termos concordado com o presidente Xi que o comércio deve ser equilibrado entre os dois blocos", afirmou a presidente da Comissão Europeia, apontando ainda o risco da "dependência" excessiva, demonstrada, em particular, durante a crise da covid-19. "Não queremos uma dissociação da China, o que queremos é uma desvinculação dos riscos", sublinhou Von der Leyen.

A agressão russa à Ucrânia foi um dos temas abordados pelos representantes europeus, como um dos mais destacados na agenda da cimeira. Von der Leyen advertiu para "a violação flagrante do direito internacional e da Carta das Nações Unidas" que a guerra representa, além de que "constitui uma séria ameaça à segurança europeia". Com estes argumentos, a UE "recordou a necessidade de a China usar toda a sua influência" sobre Moscovo, para pôr termo à guerra, incluindo "abstendo-se de fornecer equipamento letal à Rússia", e de "evitar tentativas da Rússia para minar o impacto das sanções".

"Por último, manifestámos à China a nossa preocupação com as tensões na região, em especial no estreito de Taiwan", sublinhou Von der Leyen. A este respeito, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, recordou que a UE mantém a posição a favor da ideia de "Uma só China", reconhecido Pequim como o representante de toda a nação. Mas, como vincou Von der Leyen, a UE "opõe-se firmemente a qualquer tipo de alteração unilateral do status quo de Taiwan, em especial através do uso da força". "O aumento da instabilidade nos mares da China Oriental e do Sul põe em risco a prosperidade global e a segurança regional" afirmou.

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