Cientistas promovem riqueza do estuário do Tejo
Ciência Viva o Verão mobiliza este ano cientistas de 145 instituições, para 1.755 ações, em todo o país, entre as quais as dedicadas ao Tejo, os novos peixes do rio e às suas funções de "armazém" de chumbo.
O programa realiza-se desde 1996 e tem recebido cerca de 50 mil "visitantes" por ano.
A Biologia, Geologia, Astronomia, Engenharia, mas também os castelos, os rios ou os faróis mais relevantes de Portugal são algumas das áreas do programa.
O lançamento da edição deste ano realizou-se a bordo de uma embarcação tradicional do Tejo, numa demonstração do que se estuda no rio, e contou com a presença de investigadores, do ministro da Educação e Ciência e da secretária de Estado da Ciência.
A forma de "estômago" do estuário, característica que o distingue e que foi "conseguida" ao longo de milhões de anos, a importância ambiental e a diversidade de espécies, da corvina à ameijoa ou ao flamingo, permitida pelas alterações climáticas e pelo aumento da qualidade da água, e a relevância económica do rio, da pesca ao turismo, foram fatores destacados na viagem.
Nuno Crato realçou a importância do programa Ciência Viva para as famílias e para atrair mais jovens à Ciência.
"Precisamos de mais jovens a saber Matemática, Engenharia, Física, porque é fundamental para o desenvolvimento do país", defendeu.
"O despertar da curiosidade científica, que está a ser feito este verão com o Ciência Viva, é um contributo fundamental para a educação e progresso do país, e queremos que continue a atrair mais gente", acrescentou o ministro.
Questionado sobre a opinião da Sociedade Portuguesa de Matemática acerca dos exames da disciplina, Nuno Crato lembrou que "as sociedades científicas têm um papel muito importante de ajuda à educação", considerando "suave" a sua crítica e acrescentando que a sua colaboração era "muito bem-vinda".
O estuário do Tejo, no entanto, mobilizou a sessão de apresentação do Ciência Viva.
"Do ponto de vista das pescas [o Tejo] é extremamente importante, sobretudo como zona de crescimento dos juvenis de inúmeras espécies de peixes", disse Maria José Costa, do Centro de Oceonografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
A cientista relatou que tem vindo a verificar-se um aumento da presença de corvina, "espécie que andava no norte de África e que começou a aparecer no Algarve e hoje é das mais capturadas no Tejo", mudança que justifica com as alterações climáticas.
A zona por baixo da ponte Vasco da Gama é uma das preferidas pelos pescadores, que "estão muito satisfeitos" com esta consequência da mudança climática.
O sargo do Senegal é outro exemplo, tal como a ameijoa do Japão, uma espécie exótica, ou seja, não originária de Portugal.
Apesar das vantagens económicas, Maria José Costa recordou o cuidado necessário para a gestão destas espécies pois, em muitos casos, podem tornar-se uma ameaça à sobrevivência das espécies autóctones.
Isabel Caçador, também do Centro de Oceanografia, descreveu a elevada biomassa subterrânea do estuário do Tejo e realçou as funções de "acumular poluentes e alterar as condições biogeoquímicas dos sedimentos", permitindo acumular metais pesados.
"Em Corroios, [numa área] com cerca de 400 hectares, temos 200 toneladas de chumbo guardadas e de zinco também", disse a especialista.