Cientistas chineses descobrem o espermatozoide animal mais antigo

As novas provas encontradas em fósseis sugerem que os antigos ostracodas desenvolveram esse tipo de "esperma gigante" no período Cretáceo.
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Cientistas chineses descobriram o espermatozoide animal mais antigo alguma vez encontrado, num ostracoda, um crustáceo, do tamanho de uma semente de papoila, que viveu há mais de 100 milhões de anos, informou nesta quarta-feira a imprensa local.

Apesar de se tratar de um organismo diminuto, o espermatozoide fossilizado encontrado pelos investigadores é quatro vezes maior do que o humano, segundo o portal de notícias chinês Sixth Tone.

Os ostracodas (crustáceo em que foi feita a descoberta) são uns minúsculos artrópodes que permaneceram inalteráveis durante milénios desde há pelo menos 500 milhões de anos, quase 400 milhões antes da extinção dos dinossauros, e sobreviveram a múltiplas extinções de outras espécies.

O espermatozoide dos atuais pode ser cem vezes maior do que o dos humanos, o que levou os cientistas a denominá-lo de "esperma gigante".

As novas provas encontradas em fósseis sugerem que os antigos ostracodas desenvolveram esse tipo de "esperma gigante" no Cretáceo.

A descoberta foi publicada na terça-feira no jornal científico britânico Proceedings of the Royal Society, dedicado às descobertas biológicas.

"Não sabemos porquê, mas o esperma deve ser muito funcional, de outra forma a seleção natural teria eliminado os traços", explicou à Sixth Tone um dos responsáveis pela investigação chinesa, Wang He, do Instituto de Geologia e Paleontologia de Nankín.

Wang e a restante equipa receberam uma peça de âmbar de Myanmar há uns anos.

No início, segundo o cientista, tentaram comprovar se os pontos negros que se via no interior eram ostracodas, já que estes, ao serem aquáticos, não costumam ser encontrados em resinas vegetais.

Mas posteriormente descobriram pormenores muito mais interessantes, ao verem que em cada capa de âmbar apareciam novas camadas, como se se tratasse de uma boneca russa.

Os exames por tomografia computorizada (TAC) revelaram que não só os animais na resina eram ostracodas, como os tecidos estavam bem preservados.

Wang descobriu um vulto num órgão reprodutivo de um ostracoda fêmea e uma reconstrução tridimensional mostrou que se tratava de uma mancha de esperma serpenteante e fibrosa.

"Esta nova descoberta é uma prova irrefutável de que o esperma gigante tem pelo menos uma antiguidade de 100 milhões de anos, provavelmente muito maior", disse ao portal chinês Robin Smith, perito em ostracodas do Museu Lake Biwa, do Japão.

Smith explicou que antes desta descoberta os cientistas só tinham uma prova indireta do esperma gigante em antigos ostracodas pelo tamanho dos seus órgãos reprodutivos nos fósseis.

Devido ao sítio onde se encontrou o esperma no órgão reprodutivo do exemplar fêmea, Wang crê que a cópula deve ter ocorrido mesmo antes de o animal ficar preso na resina viscosa do âmbar.

Um ostracoda macho apareceu também no âmbar próximo da fêmea, mas os cientistas não puderam confirmar se foi o autor da cópula.

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