Cientista Elvira Fortunato vence Prémio Pessoa 2020
O Prémio Pessoa 2020 foi atribuído esta quinta-feira à cientista e investigadora Elvira Fortunato, dona de uma "carreira de excecional projeção, dentro e fora do país", referiu Francisco Pinto Balsemão, presidente do júri, quando anunciou a distinção durante uma transmissão online.
"Cientista, professora catedrática e vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa, especialista em Microelectrónica e Optoelectrónica, Elvira Fortunato, engenheira de formação, tem já uma larga lista de invenções e inovações onde se destaca o transístor de papel", pode ler-se na ata da 34ª edição do Prémio Pessoa 2020.
Elvira Fortunato, 56 anos, é distinguida pelo "contributo notável para o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação português", acrescentou Francisco Pinto Balsemão.
Para o júri, "a ciência e a inovação são sinónimos da carreira de Elvira Fortunato", sublinhando o "trabalho pioneiro na área da eletrónica transparente, usando materiais sustentáveis e com processamento completo à temperatura ambiente, e de grande impacto na indústria eletrónica mundial".
"A ideia de usar o papel como um 'material eletrónico' abriu portas, em 2016, para futuras aplicações em produtos farmacêuticos, embalagens inteligentes ou microchips recicláveis, ou até páginas de jornal ou revistas com imagens em movimento", relembra o júri.
A investigadora sublinhou a importância desta distinção como um reconhecimento do seu trabalho e, sobretudo, da ciência, admitindo que tem um valor especial por carregar o nome de Fernando Pessoa.
"Fico muito contente por ter ganho este prémio que, no fundo, reconhece o trabalho que tenho feito nesta área em particular e, em geral, na área da ciência", reagiu a investigadora.
Em declarações à Lusa, Elvira Fortunato sublinhou que esse reconhecimento acontece numa altura particularmente relevante, num contexto de pandemia da covid-19 que se prolonga há mais de um ano, mostrando "a importância da ciência" no combate à crise sanitária.
Por outro lado, destacou ainda o valor especial do prémio que carrega o nome de Fernando Pessoa, um poeta que admira e que a inspira no seu trabalho.
"Há um pedacinho de um poema dele que eu tenho em letras coladas num anfiteatro, que mostra que nunca devemos pensar pequenino, devemos pensar sempre grande e pensar sempre que conseguimos", contou, citando "Para ser grande, sê inteiro: nada", da autoria do heterónimo de Pessoa Ricardo Reis.
Para o futuro, a palavra de ordem é "continuar": "Continuar com os projetos que temos em mãos e agarrar novos desafios", sublinha.
A cientista sucede ao ator, encenador, dramaturgo e diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues, vencedor do Prémio em 2019.
Elvira Fortunato é a sétima mulher distinguida com o Prémio Pessoa, depois das investigadoras Maria Manuel Mota (2013) e Maria do Carmo Fonseca (2010), da historiadora Irene Flunser Pimentel (2007), da cientista Hanna Damásio (com António Damásio, em 1992), da artista plástica Menez - Maria Inês da Silva Carmona Ribeiro da Fonseca (1990) e da pianista Maria João Pires (1989).
Desde a sua primeira edição, em 1987, o Prémio Pessoa foi atribuído a 36 personalidades (em duas edições com dois premiados em simultâneo), com papel significativo na vida cultural e científica do país.
Com um valor de 60 mil euros, o Prémio Pessoa é uma iniciativa do semanário Expresso e da Caixa Geral de Depósitos, e visa "representar uma nova atitude, um novo gesto, no reconhecimento contemporâneo das intervenções culturais e científicas produzidas por portugueses".
O júri deste ano foi composto por Francisco Pinto Balsemão (presidente), Emílio Rui Vilar (vice-presidente), Ana Pinho, António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, Eduardo Souto de Moura, José Luís Porfírio, Maria Manuel Mota, Pedro Norton, Rui Magalhães Baião, Rui Vieira Nery e Viriato Soromenho-Marques.
O anúncio do Prémio Pessoa 2020 deveria ter acontecido em dezembro, mas foi adiado para esta quinta-feira, devido à pandemia da covid-19.
Entre os vários galardoados com este prémio, desde que foi instituído, em 1987, contam-se personalidades como José Mattoso, António Ramos Rosa, Maria João Pires, Menez, António e Hanna Damásio, Herberto Helder (que o recusou), Vasco Graça Moura, João Lobo Antunes, José Cardoso Pires, Eduardo Souto Moura, João Bénard da Costa, Sobrinho Simões, Mário Cláudio, Luís Miguel Cintra, Maria do Carmo Fonseca, Eduardo Lourenço, Maria Manuel Mota, Richard Zenith, Manuel Aires Mateus, Rui Chafes, Frederico Lourenço e Tiago Rodrigues.