Cientista do CERN suspenso por comentários considerados sexistas
Um físico italiano que colabora com o CERN, o Laboratório Europeu de Física Nuclear, foi suspenso depois de dizer que a disciplina foi "inventada e construída por homens" e de considerar que a física "se está tornar sexista" contra os homens.
Alessandro Strumia, da Universidade de Pisa, fez estes comentários durante uma apresentação na instituição e depois em declarações à imprensa, o que levou o CERN a suspender a colaboração com o cientista.
Numa apresentação no âmbito de uma conferência sobre física e género, na sede em Genebra, Strumia disse que os dados que recolheu provam que a "física não é sexista contra as mulheres", mas que isso não tem importância porque esta é uma batalha que vem de fora [da ciência].
O cientista apresentou também uma série de dados que usou para sustentar a sua teoria e, quando contactado pela BBC, defendeu a sua pesquisa. "As pessoas dizem que física é sexista, que a física é racista. Eu fiz alguma pesquisa simples e descobri que não é, que se está a tornar sexista contra os homens e disse-o." Disse também que já tinha sido preterido por causa de uma mulher, mas que toda a gente que falava publicamente era atacada, censurada ou arriscava-se a perder o emprego.
Para o CERN, a "apresentação, com o seu ataque a indivíduos, foi inaceitável em qualquer contexto profissional e contrária ao código de conduta" da instituição. "O CERN tenta sempre cumprir a sua missão científica num ambiente pacífico e inclusivo", pode-se ler num comunicado.
"Infelizmente uma das 38 apresentações, por um cientista de uma das universidades que colaboraram [na conferência High Energy Theory and Gender], arrisca-se a ofuscar a importante mensagem do evento", lamenta o CERN.
Numa primeira versão do comunicado, o CERN tinha considerado a apresentação "muito ofensiva".
Apesar das afirmações de Strumia, um estudo publicado em 2012 na revista científica PNAS mostrava que os académicos classificavam melhor as candidaturas que lhes eram apresentadas com um nome masculino em vez de um nome feminino, quando aquelas eram idênticas.
Há três anos, o Nobel da Medicina Tim Hunt teve de se demitir da University College London, onde era professor emérito, face à indignação que causaram as suas afirmações sobre as mulheres na ciência - que choram e um fator de distração no laboratório, porque os colegas se apaixonam por elas, e elas por eles.