Ciclovia com 214 km vai atravessar todo o Algarve
A família Azevedo é adepta da bicicleta. Ao fim- -de-semana, lá vai o pai, arquitecto, a mãe, professora, e os três filhos, de 13, 10 e oito anos, respectivamente, cumprir o ritual obrigatório. O único local disponível nos arredores de Faro, onde habitam, para andar em segurança é o Parque das Cidades, onde está instalado o Estádio Algarve.
"É uma forma saudável e descontraída de desfrutarmos uns dos outros, já que só estamos com os miúdos à noite", refere ao DN Sandra Azevedo, lamentando, contudo, a inexistência de "mais vias para os ciclistas, até porque começa a cansar a paisagem do Parque das Cidades". "Às vezes vamos para o calçadão de Quarteira ou para o inacabado passeio ribeirinho de Faro, mas é complicado andar com as crianças em pistas que não são específicas para bicicletas", diz.
Os tempos livres da família Azevedo vão, contudo, mudar no final do ano, quando estiver implementada a Ecovia do Litoral, um eixo contínuo com 214 km de extensão, destinado a todas as deslocações não motorizadas, que ligará o Cabo de S. Vicente (Vila do Bispo) a Vila Real de Santo António, atravessando 12 municípios e dois parques naturais - o da Costa Vicentina (57 km) e o da Ria Formosa (60 km), num investimento de três milhões de euros.
Sérgio Inácio, coordenador da Divisão de Projectos e Apoio às Autarquias da Grande Área Metropolitana do Algarve (AMAL), entidade promotora do projecto, em parceria com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDRA) e Instituto de Conservação da Natureza (ICN), explica ao DN que a Ecovia caracteriza-se por uma grande heterogeneidade, "tanto em relação ao meio atravessado - urbano, rural e natural - como às tipologias de intervenção previstas".
Com efeito, adiantou o técnico, "o percurso consegue articular caminhos rurais, estradas secundárias e a própria EN 125, onde serão criadas vias paralelas". Ao todo, a Ecovia do Litoral tem nove perfis estradas nacionais e municipais sem bermas, onde serão executadas marcas rodoviárias indicativas da faixa ciclável; estradas nacionais e municipais com bermas já pavimentadas, onde será pintada, na faixa destinadas aos ciclistas, uma linha azul; estradas nacionais e municipais em terra batida, que serão pavimentadas; caminhos rurais em terra que também serão pavimentados, num único sentido; caminhos junto a ribeiras e salinas, que serão pavimentados e delimitados com guias em madeira; ciclovias já existentes, as quais serão alvo de acções pontuais de reparação; passeios cicláveis (nestes será feito o rampeamento de lancis nos casos em que estes não sejam pavimentados).
Como o percurso engloba elevado número de linhas de água, ribeiras e salinas, o projecto prevê a construção de 12 pontes de madeira e muitos passadiços que "passam por zonas dunares, integradas em áreas protegidas".
Sinalética comum
"Os percursos serão todos diferentes, mas haverá um elo comum a sinalética", revela, por seu turno, o arquitecto paisagista Jorge Coelho, que acompanha o projecto por parte da AMAL. O sistema de sinalização será composto por um painel regional, que informa os utentes da Ecovia de que esta se inscreve numa rede europeia, e um painel local, com informação sobre o percurso e a sua envolvente. Há também os sinais de trânsito para transmitir indicações úteis sobre a Ecovia e mapas indicativos das condições dos sítios atravessados, com pavimentos, perfis e atravessamentos (classificados de acordo com o perigo).
O atravessamento das cidades pode parecer complicado, mas Jorge Coelho assegura o contrário. "Será definido um ponto de entrada e outro de saída, através de um painel com o mapa da cidade e um percurso seguro para o ciclista". Há ainda a possibilidade de as equipas ciclo da PSP e GNR virem a patrulhar os percursos, urbanos e rurais.