Nos últimos meses, a diplomata Christiana Figueres fez milhares de quilómetros viajando para vários países, encontrando-se com todos aqueles que poderiam ajudá-la na sua causa: convencer 195 países a desistirem dos combustíveis fósseis. Enquanto responsável pelas questões climáticas na ONU, tinha uma missão difícil: queria um acordo mais ambicioso do que os anteriores. E conseguiu. Os estados presentes na cimeira do clima comprometeram-se no sábado a limitar o aumento da temperatura em 1.5 graus. Resta agora que também estes cumpram a sua missão..O sucesso da COP21 deve-se, em parte, a esta costa-riquenha de 59 anos, secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as alterações climáticas (UNFCCC, em inglês) desde julho de 2010. Christiana Figueres tem o mais alto cargo relacionado com o clima na ONU, e foi desenvolvendo incansáveis esforços diplomáticos para convencer os países a reduzirem o uso de combustíveis fósseis. Nas vésperas da cimeira, conta o The Guardian, Christiana não esperava o caos. Tinha a certeza de que saíria um acordo de Paris. A questão era o quão ambicioso seria..O êxito das negociações estava muito dependente do seu papel. Tinha como principais tarefas assegurar que os países assumiam metas rigorosas sobre as emissões, conseguir fornecer apoio financeiro às nações em desenvolvimento para apostarem na energia verde e produzir um projeto de texto que pudesse ser assinado e servir como elemento jurídico..Na cimeira de Paris, foi conseguida uma meta sem precedentes: limitar o aquecimento global em 1.5 graus em relação à era pré-industrial. Aos países mais pobres será dada uma assistência internacional de 100 mil milhões de dólares por ano para reduzirem as emissões de gases com efeitos de estufa a partir de 2020, valor que será reforçado em 2025. "Os investimentos que vamos a fazer a nível mundial nos próximos cinco, dez, no máximo, 15 anos, mas principalmente os dos próximos cinco anos, vão determinar a qualidade de vida das gerações futuras", disse Christiana numa entrevista ao Guardian, no mês passado.."É intensa e focada".Nas paredes do escritório de Christiana Figueres, em Bona (Alemanha), há ilustrações do sapo dourado. Foi graças a este animal que resolveu dedicar-se ao problema do clima. Quando foi mãe das duas filhas, em 1988 e 1989, apercebeu-se que já não existiam sapos dourados, espécie que via com frequência na Costa Rica. Christiana percebeu, aí, que tinha de fazer alguma coisa para diminuir o impacte da ação humana no planeta..Natural daquele país da América Central, esteve desde muito cedo ligada à política. É filha de Jose Figueres Ferrer, o homem que dirigiu o país na transição para a democracia e que foi eleito presidente três vezes. Formou-se em antropologia na London School of Economics e tem dedicado a sua vida "ao serviço público." Enquanto membro da equipa de negociação do clima da Costa Rica, ajudou a escrever o Protocolo de Quioto e restantes acordos..O The Guardian descreve-a como uma mulher eficiente e direta, embora com "momentos de fogo." Responde a todas as perguntas imediatamente, por vezes de forma humorada e é "intensa e focada", mesmo quando à sua volta se instala o caos..É responsável pela resposta do mundo ao aquecimento global, uma ameaça lenta, diz a publicação britânica, e, portanto, ignorada pela maioria dos governos e público nos últimos 30 anos, apesar dos constantes alertas feitos pelos cientistas para os perigos das emissões de gases com efeitos de estufa. Mais de 20 anos após as primeiras tentativas para controlar as emissões, estas continuam a aumentar de ano para ano. Em 1992, quando foi assinado o UNFCCC, o teor de carbono na atmosfera era de 356 partes por milhão (ppm), estando atualmente nas 398 ppm. O limiar estimado pelos cientistas, diz a mesma fonte, são as 450 ppm, a partir do qual o clima mudará de forma drástica e irreversível..Objetivo cumprido.Segundo o diário La Nacion, da Costa Rica, são frequentes os encontros da diplomata com figuras como Barack Obama, François Hollande ou o príncipe Carlos. Este ano, a revista Foreign Policy colocou-a na lista dos 100 pensadores mais influentes do mundo, um top onde entram nomes como o Papa Francisco ou Angela Merkel. "Pode Christiana Figueres persuadir a humanidade para que se salve a si mesma?", questionava, em agosto, o New Yorker. Ao que tudo indica, a diplomata cumpriu o seu objetivo. Na entrevista ao Guardian, anunciou que se demitiria do cargo da ONU após o Acordo de Paris. Mas ainda não se sabe ao certo quando é que isso vai acontecer..O acordo foi aceite e será simbolicamente assinado a 22 de abril de 2016, Dia da Terra. Entrará em vigor em 2020 e, a cada cinco anos, será feita uma revisão dos compromissos voluntários de cada país. Após os 195 países terem chegado a acordo, personalidades de todo o mundo manifestaram-se, congratulando-se com o momento histórico para o ambiente, mas, em muitos casos, lamentando, todavia, a falta de medidas concretas.