Chris Rock: "Claro que Hollywood é racista"
O comediante Chris Rock lançou-se no discurso que marcou o seu regresso à apresentação dos Óscares, no domingo, confrontando de imediato e de frente o elefante na sala - a polémica sobre a ausência de negros e latinos entre os atores nomeados.
Num monólogo inicial inteiramente sobre o tema e salpicado com comentários mordazes sobre o que descreveu como o "racismo de repúblicas de universidade" que vigora na indústria cinematográfica, Rock lançou uma noite em que quase todas as piadas voltaram ao tema da discriminação racial.
Ao fazê-lo, transformou uma cerimónia de entrega de prémios conhecida há muito tempo pela sua pompa em três horas e meia de emissão pontuada por sátira fulminante sobre temas como a inclusão e a diversidade levantados pela hashtag #OscarsSoWhite e pelo movimento Black Lives Matter. A BBC chamou-lhe "o desempenho da sua vida"
Mas o tema do racismo foi apenas um elemento dos que contribuíram para fazer a 88.ª edição dos Óscares ficar na história como uma das mais socialmente conscientes. Da mensagem do vice-presidente Joe Biden, que apareceu para introduzir Lady Gaga e falar sobre a violência sexual nas universidades, ao discurso da vitória de Leonardo DiCaprio, um apelo apaixonado à proteção do planeta.
A diferença no tom foi evidente desde o início. Rock deu as boas-vindas ao público de um espetáculo conhecido como os prémios "People's Choice dos brancos", acrescentando que se o apresentador fosse nomeado ele não teria conseguido o emprego. Tornou-se imediatamente óbvio que Rock não ia poupar ninguém e que esta mensagem sem censura podia ajudar a Academia a lidar com o seu problema de diversidade.
Rock interrogou-se com uma surpresa fingida sobre porque este problema nunca tinha surgido nos anos 1950 e 1960 e acabou por dar a resposta: "Porque tínhamos problemas reais para protestar na altura. Estávamos demasiado ocupados a ser violados e linchados para nos importarmos com quem ganhava Melhor Cinematografia. Quando a tua avó está pendurada de um árvore é muito difícil pensar na melhor curta documental."
Rock não limitou as suas piadas à Academia. Conseguiu gargalhadas quando brincou que a tradicional montagem anual em memória dos mortos este ano seria dedicada a todos os negros mortos pela polícia quando iam a caminho do cinema. E quando se referiu a Hollywood, deixou claro que tinha à sua frente algumas das pessoas brancas mais simpáticas do planeta, mas que é "claro que Hollywood é racista".
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O tema estendeu-se para além do monólogo para muitos dos sketches no meio dos prémios. Num vídeo já gravado, atores negros foram inseridos em cenas de filmes nomeados, incluindo o próprio Rock, que fez de astronauta preso no espaço no filme "Perdido em Marte", enquanto os diretores da NASA decidiam se valia a pena gastar dinheiro (muito pouco) para resgatar um astronauta negro.
Noutro segmento, Rock foi até Compton, um subúrbio predominantemente negro de Los Angeles, para entrevistar pessoas à porta do cinema: nenhum tinha visto os filmes nomeados. No entanto, todos tinham visto o filme sobre hip hop Straight Outta Compton, um filme aclamado pela crítica e que surpreendeu ao não ser incluído na lista de melhores filmes, ajudando a fomentar a polémica #OscarsSoWhite.
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Um dos comentário de Rock que mereceu mais palmas, no entanto, não foi sequer uma piada: "Queremos oportunidades. Queremos que os atores negros tenham as mesmas oportunidades que o brancos. É isso."
Rock foi escolhido para apresentar os Óscares em outubro, antes de serem conhecidas as nomeações, e depois da polémica #OscarsSoWhite foram várias as vozes da comunidade negra que lhe pediram para desistir.