Chocolate pode entrar em vias de extinção? Há quem diga que sim
O ano começou com más notícias para os apreciadores de chocolate: o aumento da temperatura provocado pelas alterações climáticas pode pôr em causa a indústria mundial do cacau - a matéria-prima do chocolate - em 2050. Depois de anos de elevada procura e preços altos, a oferta supera agora a procura, mas paira no ar a ameaça do desaparecimento do chocolate dentro de aproximadamente três décadas.
O alerta é da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos. Com a previsão de aumento da temperatura de 2,1 graus centígrados até 2050, e se nada for feito para reverter a situação, as áreas de cultivo de cacau tendem a ficar reduzidas.
Em causa está o facto de as plantas de cacau precisarem de condições muito específicas para crescer: temperaturas estáveis, elevada humidade, chuva abundante, solo rico em nitrogénio e proteção contra o vento. Neste momento, diz a Forbes, a Costa do Marfim, o Gana e a Indonésia são os principais produtores de chocolate, sendo os dois primeiros responsáveis por mais de metade da produção mundial, o que faz que a oferta fique mais vulnerável às alterações no clima.
Uma das soluções apontadas é a passagem dos locais de produção de cacau para as zonas mais montanhosas - áreas preservadas como refúgio da vida selvagem -, o que poderia diminuir o impacto das alterações climáticas, mas prejudicaria os ecossistemas.
Enquanto se debate o fim do chocolate, na Califórnia, um grupo de cientistas uniu-se à empresa Mars para tentar arranjar uma alternativa: uma ferramenta de edição genética (chamada CRISPR) que permita criar plantas mais resistentes, ou seja, que consigam sobreviver em climas mais secos e quentes.
Especulação
Para João Branco, presidente da associação ambientalista Quercus, as notícias sobre a possível extinção do cacau são "especulativas". "O facto de a temperatura média global aumentar 2,1 graus não quer dizer que vá aumentar nos locais onde é produzido", explica. Além disso, prossegue, "neste momento há muito mais problemas com a perda de área de cultivo por causa da degradação dos solos". Há muitas áreas a ser desflorestadas para produzir cacau, denuncia, o que provoca a degradação dos solos. Para o ambientalista, "não há grandes bases científicas" que sustentem o alarme.
Esta não é, contudo, a primeira vez que se fala da eventual extinção do cacau. Em 2014 houve um agravamento do défice entre produção e consumo, não só por causa da seca mas também devido a uma doença fúngica. Um problema que, para já, parece ter sido ultrapassado. Segundo a Bloomberg, no ano passado, a colheita da Costa do Marfim terá chegado, pela primeira vez, a um recorde histórico de dois milhões de toneladas métricas. Isto porque, após um período de escassez, os produtores terão aumentado o investimento e a área de produção.
Por cá, a associação do setor do chocolate previa, em dezembro, que as vendas ultrapassassem os 200 milhões de euros em 2017, entre 3% e 5% acima dos valores registados em 2016. Segundo a Associação dos Industriais de Chocolates e Confeitaria, o consumo per capita, que há cinco anos era de um quilo e meio por ano, deverá situar-se agora nos dois quilogramas, um valor que coloca os portugueses atrás da Espanha (4 kg/ano), por exemplo, ou da Grécia (3,8 kg/ano).
Também no consumo há a influência das alterações climáticas. Manuela Tavares de Sousa, presidente executiva da empresa Imperial, disse à Lusa que as alterações climáticas, com tempo "excessivamente quente", penalizam os produtos vendidos no inverno, o que também acontece em Espanha. Para compensar, aumentam as exportações para outros países.
Em Portugal, alerta João Branco, as alterações climáticas estão a afetar a produção de castanha, que, no entanto, não está em risco de extinção, pois continuará a ser produzida noutros países.