Chipre, uma ilha dividida há mais de 40 anos com negociações bloqueadas
Membro da União Europeia e da zona euro, a República de Chipre ocupa a parte sul do território, habitada na larga maioria por cipriotas gregos.
No terço norte do território, onde está instalada a comunidade cipriota turca, foi autoproclamada em 1983 a República Turca de Chipre do Norte (RTCN), apenas reconhecida pela Turquia.
A divisão da ilha, antiga colónia britânica, prevalece desde 1974, quando as tropas turcas invadiram o norte do território em resposta a uma tentativa de golpe falhado de nacionalistas cipriotas gregos, que pretendiam concretizar a união de Chipre à Grécia.
Chipre obteve a independência do Reino Unido em 1960 e uma nova Constituição procurou manter um equilíbrio entre as principais comunidades da ilha.
Através de um Tratado, Reino Unido, Grécia e Turquia assumem o estatuto de "potências garantes" da independência e o direito de intervir caso Chipre procure juntar-se a outro país. Nesse período, muitos cipriotas gregos ambicionavam uma ligação à Grécia.
No final de 1963 eclodem violências entre as comunidades cipriota grega e turca, e em 1964 é criada uma força de manutenção da paz da ONU para Chipre (UNFICYP).
Entre 1963 e 1964 cerca de 2.000 pessoas são dadas como desaparecidas na sequência dos confrontos intercomunitários.
Em 15 de julho de 1974, o golpe de Estado fomentado pelos nacionalistas cipriotas gregos consegue num primeiro momento derrubar o presidente da República Makarios III (1913-1977), arcebispo da igreja ortodoxa de Chipre.
Em 20 de julho, tropas turcas desembarcam no norte da ilha, com Ancara a invocar o seu direito à proteção da minoria cipriota turca (menos de 20% da população).
Três dias mais tarde, a Junta Militar é derrubada em Atenas, e os seus protegidos em Nicósia caem em simultâneo.
Em 30 de julho, Turquia, Grécia e Reino Unido instituem uma "zona de segurança" sob controlo dos 'capacetes azuis' da ONU.
Em dezembro, Makarios, que se tinha exilado, retomou as suas funções em Nicósia.
Segundo as autoridades cipriotas gregas, a invasão turca da ilha e o conflito que se seguiu provocou 3.000 mortos e 1.400 desaparecidos.
A partilha da ilha implicou ainda importantes deslocações de populações, que atingiram 162.000 cipriotas gregos e 48.000 cipriotas turcos, de acordo com os dados do Instituto de pesquisa sobre a paz de Oslo (PRIO), terminando com a ancestral multietnicidade na quase totalidade do território.
Em 15 de novembro de 1983, o líder da comunidade cipriota turca Rauf Denktash (1924-2012) proclama a "República Turca de Chipre do Norte" (RTNC), onde permanecem estacionadas cerca de 35.000 tropas turcas. Apenas Ancara reconheceu esta entidade.
Em abril de 2003, foi aberto em Nicósia um primeiro ponto de passagem entre as duas partes da ilha, seguido de outros acessos. Um ano depois são restabelecidas as trocas de mercadorias.
Em abril de 2004 a ONU submeteu a referendo um plano de reunificação, aprovado por parga maioria dos cipriotas turcos (65%) mas rejeitado por mais de 75% dos cipriotas gregos, por considerarem que fornecia mais condições políticas e jurídicas à outra comunidade.
Na sequência destes resultados, foi uma República de Chipre dividida que aderiu oficialmente à União Europeia (UE) em 01 de maio de 1974, e com o estatuto comunitário a aplicar-se exclusivamente à parte sul, internacionalmente reconhecida.
Em setembro de 2008, e após quatro anos de impasse, o então presidente cipriota grego Dimitris Christofias (que foi líder do Partido Progressista do povo Trabalhador, AKEL) e o líder da RTCN Ali Talat relançam as conversações diretas.
No entanto, em maio de 2012, os cipriotas turcos rompem o diálogo numa reação à designação de Chipre para a presidência rotativa da UE.
As discussões são retomadas de forma cautelosa no final de 2014, para conhecerem um forte impulso em 2015.
O ano de 2017 foi assinalado por duas novas rondas negociais sob a égide da ONU na Suíça, em janeiro e em julho, mas uma vez mais acabam por fracassar. Entre os principais pontos de litígio prevalece a presença militar turca, os ajustamentos territoriais e as garantias securitárias.