Chinês já estava referenciado por agiotagem há 15 anos

Suspeito do sequestro estava na mira das polícias de Portugal e Espanha, mas nunca havia sido detido. Jogo clandestino está na origem de maioria dos crimes entre chineses.
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A Polícia Judiciária tem vindo a deparar-se com casos de branqueamento de capitais e evasão fiscal, relacionados com o jogo clandestino entre a comunidade chinesa na zona litoral do distrito do Porto, onde, além de frequentarem o Casino da Póvoa de Varzim, chineses controlarão salas de jogo clandestino nos armazéns e lojas da Urbanização de Varziela, Vila do Conde.

O sequestro de uma mulher por uma alegada dívida de jogo é o caso mais recente em que o chinês suspeito de ser mandante do rapto está referenciado policialmente há 15 anos, em Portugal e Espanha, por alegada agiotagem. Nunca tinha sido detido.

Está em prisão preventiva e terá emprestado à vítima e ao marido 50 mil euros, a um juro de 20 por cento ao mês, para o casal pagar dívidas de jogo. Como não pagaram sequestrou a mulher durante sete dias até à intervenção da PJ.

Casas de jogos ilegais estão referenciadas na zona de Varziela, em Vila do Conde, existindo um grupo que se dedica a emprestar dinheiro a jogadores, mas a altos juros, assistindo-se periodicamente a "cobranças difíceis". Numa dessas situações, em Março do ano passado, um chinês foi baleado com três tiros no peito, um caso que continua ainda a ser investigado pela PJ que na altura deteve um indivíduo chinês.

Alguns chineses serão também alvo da exploração de compatriotas seus, segundo fontes policiais, que apontam para situações de tráfico de seres humanos, com o envolvimento de máfias chinesas.

Mas o presidente da Associação China Única, Y Pong Chow, desmentiu ao DN a existência de máfias chinesas a operar em Portugal. Já vivem mais de 20 mil chineses no nosso país, com a maioria a dedicar-se ao comércio e à restauração. Muitos chegaram cá há décadas e os filhos frequentam as escolas portuguesas. Mas a comuni- dade permanece muito fechada e existem os "códigos de silêncio" que neste caso de sequestro foi quebrado com a denúncia à PJ.

Segundo Y Pong Chow, a residir há 48 anos no nosso país, "essa situação do rapto, que nos envergonha a todos, não é típica de grupos mafiosos".

Apesar de referenciado, foi a primeira vez que este chinês de 42 anos - proprietário de um restaurante em Famalicão e lojas em Mirandela - ficou detido. Ontem à tarde foram ouvidos pelo juiz de turno no Palácio da Justiça de Barcelos mais três suspeitos, dois chineses e um português.

Este caso só terá sido denunciado às autoridades devido ao prolongar do rapto, com a exigência de um resgate de 50 mil euros, mas informações das forças de segurança dão conta da existência de "cobranças difíceis" e extorsão entre elementos da comunidade.

Na sua interpretação do caso de Famalicão, Y Pong Chow afirmou que "é habitual os chineses ficarem com objectos de outros chineses, para garantirem o pagamento de uma dívida, mas não é tão frequente reterem pessoas durante tanto tempo".

A PJ deteve entretanto um português por alegado envolvimento no rapto. O detido, Pedro "Rita", é um "segurança" de Famalicão, que teria não só vigiado como ameaçado a cidadã chinesa durante o cativeiro, num apartamento no centro de Famalicão. É a quarta detenção depois de a PJ ter apanhado o principal suspeito e o seu filho, estudante de 17 anos, assim como o motorista. A PJ apreendeu ao principal suspeito um Mer- cedes S320 no valor de 100 mil euros.

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