A China tinha 1412 milhões de habitantes no final de 2021, enquanto a Índia estava já a ultrapassar a fasquia dos 1400 milhões. Com as atuais taxas de natalidade, em 2022 nascerão 10 milhões de chineses e 24 milhões de indianos, o que significa que o título de país mais populoso do mundo vai mudar de mãos, graças ao saldo natural bem distinto, talvez já em 2024 ou 2025. Esta ultrapassagem, inimaginável ainda há meio século, resulta tanto da política de filho único que Pequim conseguiu impor a partir de 1980, como da incapacidade crónica de Nova Deli em criar um eficaz programa nacional de controlo da natalidade..A diferença de sistema político explica em boa parte esse sucesso e insucesso de um e outro dos gigantes asiáticos no controlo dos nascimentos. E agora é a China que começa a ficar preocupada com os números, pois apesar do levantamento da política de filho único em 2016 a população cresce residualmente e em 2022 os nascimentos poderão até ser inferiores a 10 milhões, um limiar simbólico. A Índia, por seu lado, mostra tendência para um equilíbrio na sua natalidade, com os tais 20 e poucos milhões de nascimentos, que se repetem pelo menos desde 2015, a corresponderem a um surpreendente número médio de 2,2 filhos por mulher, o que é quase o valor ideal para a renovação das gerações..Durante as últimas décadas, o crescimento económico chinês deveu-se muito às políticas estatais de incentivo à produção e também ao espírito empreendedor do povo. Deng Xiaoping sabia o que fazia quando depois da estagnação dos tempos de Mao Tsé-tung trocou na prática o comunismo pelo capitalismo e declarou que "não importa a cor do gato desde que cace ratos". Ou seja, a procura da riqueza passava a ser a prioridade, e o socialismo de características chinesas apenas a ideologia oficial do PCC, que alguns dizem ser hoje mais o Partido Confucionista Chinês. Mas a política de filho único contribuiu certamente para as taxas de crescimento do PIB na ordem dos 10% que chegaram a ser regra pois a dado momento a China tinha um rácio excelente de população ativa. Agora, pelo contrário, depara-se com um cenário de envelhecimento da população..Já a Índia está a atingir um máximo de população ativa, o que dá muitos argumentos a quem a vê como alternativa à China como fábrica do mundo. Na comparação entre o sistema democrático e descentralizado indiano e o autoritarismo e o centralismo do sistema chinês não faltará quem agora elogie os méritos do primeiro quando ainda há pouco elogiava os da China. Cautela, porém, porque a China tem um PIB quatro vezes superior e já conseguiu muito em termos de bem-estar da população, enquanto a Índia ainda tem um longo caminho a fazer nessa matéria. Por exemplo, falta a Nova Deli assegurar que a educação das mulheres, fator-chave para que reduzam a sua prole, se intensifique e chegue às camadas mais pobres, muitas vezes vítimas do sistema de castas, ilegal mas real..As autoridades chinesas prometem, como resposta à escassez de bebés, mais regalias para as parturientes mas sobretudo vão contrariar os abortos "não médicos", inversão radical da prática de há alguns anos. Foram então muitas as denúncias de ecografias usadas para identificar o sexo da criança e garantir que o tal filho único do casal fosse um rapaz. Na Índia, houve igualmente escândalos no programa de natalidade, como vasectomias a troco de rádios na década de 1970..Olhando para o futuro, a vantagem económica da China vai ainda durar até a crise demográfica se tornar evidente, e não só a população continuará ainda a aumentar durante algum tempo como o avanço que para já a economia chinesa tem sobre a indiana garante também que nos próximos anos os investimentos estrangeiros serão muito maiores na primeira do que na segunda. Mas o alerta foi percebido pelos governantes chineses. E as previsões a longo prazo mostram que há um caminho complicado a percorrer para evitar uma séria estagnação ou até declínio. Para 2100, já muito depois de ambos os países deixarem de ser capazes de substituir gerações, a estimativa populacional é de 732 milhões de chineses para 1090 milhões de indianos. Como estarão então os respetivos PIB?