Cheili e Saira, de 5 anos, fugiram do gás lacrimogéneo que Trump garante ser muito seguro
"Pensava que ia morrer com elas por causa do gás." A frase é de Maria Meza, de 39 anos. Saiu há dois meses de San Pedro Sula, no norte das Honduras, com as filhas Jamie, de 13 anos, e Cheili e Saira, gémeas de 5. Juntou-se à caravana de migrantes com o objetivo de deixar para trás a pobreza e a violência da terra natal e chegar ao Louisiana, onde o pai das filhas vive.
"Porque corre um pai para um local onde sabe que vai haver gás lacrimogéneo e corre com uma criança?", perguntou o presidente dos EUA, Donald Trump, a jornalistas no Mississíppi. Às críticas do uso do gás, respondeu que o que está em causa é "uma variante muito leve do próprio gás lacrimogéneo", que assegurou ser "muito seguro".
Essa declaração foi desmentida pelo próprio responsável da agência pela proteção das fronteiras, Chris Cuomo, à CNN. "Só há um tipo de gás lacrimogéneo."
Trump alegou ainda que algumas das mulheres não são de facto mães, mas criminosas que roubam crianças para terem mais hipóteses de obter asilo nos EUA.
Depois de terem passado uma semana num abrigo temporário em Tijuana, Maria Meza e as filhas juntaram-se à manifestação de domingo, convocada para chamar a atenção dos norte-americanos. Mas a certa altura centenas de pessoas furaram o bloqueio policial mexicano e correram no sentido de San Diego.
Segundo a AP, os migrantes dividiram-se em dois grupos: um deles tentou atravessar cercas de arame farpado, outro conseguiu abrir uma brecha na vedação de betão. Aqui um grupo de mais de 30 pessoas conseguiu passar para os EUA, segundo uma fonte que pediu o anonimato. Já de acordo com a Reuters, mais de 40 pessoas foram detidas no lado norte-americano, e nenhuma delas teria atravessado com sucesso o território californiano.
Um grupo de migrantes atirou pedras aos agentes dos EUA. Quatro foram atingidos mas não ficaram feridos porque usavam equipamento de proteção. Em resposta, os agentes atiraram gás lacrimogéneo e gás pimenta. Na segunda-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros do México enviou uma nota diplomática ao congénere norte-americano a pedir uma "investigação completa" ao uso de armas não letais dirigidas ao território mexicano.
Do lado mexicano, 98 migrantes foram detidos e repatriados.
As tensões cresceram em Tijuana após Trump ter dito no sábado que os migrantes teriam de esperar no México até que os pedidos individuais de asilo fossem analisados nos Estados Unidos. Se tal acontecesse seria uma mudança significativa na política de asilo, e que poderia manter os migrantes da América Central no México por mais de um ano. O México tem estado em negociações com os Estados Unidos sobre um possível esquema para manter migrantes no México enquanto os seus pedidos de asilo são processados.
Na segunda-feira Trump foi mais longe. Voltou a dizer que muitos dos migrantes são "criminosos" e defendeu que o México deve enviar os migrantes, principalmente hondurenhos, de volta para casa. "Façam-no de avião, façam-no de autocarro, façam como quiserem, mas eles não vão entrar nos EUA. Vamos fechar a fronteira permanentemente, se necessário", escreveu no Twitter.