Cheias afectam quase 740 mil brasileiros em dez estados

O número de mortos devido  às inundações do último mês aproxima-se dos 30. Os ladrões aproveitam para assaltar as casas que ficaram submersas. As autoridades começaram  a distribuir cabazes com comida e água potável.
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Em Teresina, capital do estado brasileiro do Piauí, a polícia já aprendeu que nem todas as pessoas que estão a tirar televisores ou botijas de gás das casas alagadas estão a tentar salvar os seus bens. Muitos são ladrões a aproveitar-se da subida do nível das águas. As cheias, que atingem o Norte e o Nordeste do país, já afectaram a vida de 740 mil pessoas em mais de 270 municípios de dez estados e causaram a morte a quase 30 pessoas.

"Nós somos a lei agora", contou o presidente da associação de moradores do Bairro de São João, Maílson Chaves, à Folha de S. Paulo. São eles que, deslocando-se de barco e armados com pedaços de madeira, garantem a segurança da zona durante a noite. Em alguns locais estratégicos, há moradores nos primeiros andares das casas para "vigiar as ruas".

As autoridades reforçaram a segurança, tendo sido enviados mais 240 polícias para Teresina (onde se registam 250 mil desalojados), mas têm muitas dificuldades. "Por conta do grande número de pessoas que está tirando objectos de suas casas, é difícil identificar possíveis furtos", referiu o major Sá Júnior ao mesmo jornal.

O Ceará, na região do Nordeste, é o estado mais atingido, com 65 cidades em estado de emergência e nove mortos contabilizados. Pelo menos 183 mil pessoas foram afectadas pelas cheias e quase 40 mil ficaram sem abrigo. Na região norte, o Amazonas tem 38 cidades atingidas e 265 mil afectados. Quase 55 mil pessoas estão sem tecto ou abrigadas em casa de familiares e amigos. Em Manaus, a capital deste estado, o Rio Negro sobe, em média, três centímetros por dia, e a água ameaça o centro histórico.

Para os mais novos, a água é uma brincadeira, mas as autoridades alertam para o perigo que esconde, podendo provocar doenças, como a leishmaniose. Além disso, como os habitantes de Santarém, no estado do Pará, já descobriram, pode levar cobras e jacarés para mais perto. Uma mulher, mãe de três filhas, contou ao site G1 (da Rede Globo) que encontrou pelo menos uma cobra dentro de casa: "Já escapou de morder a gente, matámos tanta cobra."

A falta de água potável é outro problema, estando as autoridades a procurar suprimir essa necessidade nas áreas mais afectadas. Cabazes com arroz, feijão, açúcar, óleo, leite em pó, farinha de mandioca e massa também já começaram a ser distribuídos. Ao todo, mais de 82 mil cabazes foram entregues à população (o que equivale a 1886 toneladas de alimentos), além de 1,3 milhões de unidades de outros bens como colchões, almofadas ou mosquiteiros.

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, que sobrevoou as áreas afectadas do Piauí e do Maranhão na terça-feira, disse que não é preciso desesperar: "Nesta hora, é como tratar de uma pessoa que chegou baleada no hospital. A primeira medida é estancar o sangue, depois retirar a bala."

Em relação às críticas sobre as dificuldades no acesso aos recursos, o Presidente lembrou que um bom projecto ultrapassa qualquer burocracia. "O que faz facilitar a liberação de recursos não é emergência, é o projecto. É ele que faz com que o dinheiro possa fluir com muito mais facilidade", afirmou.

A previsão do estado do tempo não é a melhor. A chuva, que em alguns estados cai já há um mês, promete manter-se nos próximos dias. Os danos causados pelo mau tempo já atingiram 270 municípios no Norte e Nordeste. Ontem, as autoridades enviaram um alerta de chuva forte para Roraima, Rondônia, Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Baía.

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