Chegou a hora do discurso da união para Donald Trump
Quando, a 16 de junho de 2015, Donald Trump chegou ao resplandecente lóbi da sua Trump Tower, na Quinta Avenida de Nova Iorque, e anunciou que ia "tornar a América grande outra vez" quase ninguém o levou a sério. Uns viam nesta candidatura às presidenciais uma manobra de marketing, outros, como o Huffington Post, escreviam "Deus nos acuda" e até a conservadora Fox News afirmava que "a corrida acabou de ficar mais divertida". Passados 13 meses e com a nomeação no bolso - depois de na madrugada de ontem ter obtido a maioria dos votos dos delegados à convenção republicana que hoje termina em Cleveland, no Ohio -, hoje, o milionário feito candidato sobe ao palco para um discurso que se adivinha apoteótico. Mas precisa de unir um partido dividido se quer derrotar Hillary Clinton a 8 de novembro.
Para trás ficaram 16 rivais republicanos, muitas polémicas e críticas, algumas delas internas. Sem a presença em Cleveland de figuras do partido como os ex-candidatos presidenciais John McCain e Mitt Romney ou os ex-presidentes George H. W. e George W. Bush - estes últimos já garantiram mesmo que não irão votar em Trump em novembro -, hoje é mesmo assim hora de festa. Apostado em fazer dos ataques a Hillary Clinton um dos poucos cimentos que parecem capazes de unir todos os republicanos, esperam-se muitos ataques à candidata democrata quando o milionário subir ao palco, entre mais de 125 mil balões. No segundo dia de convenção, a audiência por várias vezes respondeu com gritos de "Prendam-na! Prendam-na!" aos ataques contra a ex-primeira-dama.
O encerramento da convenção fica a cargo de Ivanka Trump, a adorada filha de Trump que viu toda a progenitura subir ao palco da convenção para discursar, à exceção do filho mais novo, Barron, de 10 anos. Um dos momentos que mais deram que falar foi a intervenção de Melania Trump, a terceira mulher do magnata, acusada de ter plagiado o discurso de Michelle Obama em 2008. Ontem, enquanto Meredith McIver assumia a responsabilidade por ter escrito o discurso e pedia a demissão da equipa de Trump, o próprio garantia no Twitter ser "uma boa notícia que o discurso de Melania tenha atraído mais atenções do que qualquer outro na história da política".
Ontem o principal discurso da noite (madrugada de hoje em Lisboa) estava a cargo de Mike Pence, o governador do Indiana que Trump escolheu para seu candidato a vice--presidente. As duas únicas aparições conjuntas dos homens que constituem o ticket republicano foram marcadas por algum embaraço, como quando Trump afastou a pergunta sobre o apoio de Pence à invasão do Iraque em 2003 com um "Não quero saber!", no programa 60 Minutes da CBS, mas recusou desvalorizar da mesma forma o voto no mesmo sentido de Hillary.
Mas um dos momentos mais aguardados do terceiro dia da convenção era a intervenção de Ted Cruz. O senador do Texas recusou apoiar Trump desde que suspendeu a campanha e ficou em segundo lugar na votação dos delegados - com 475 votos contra 1725 para Trump. Na segunda-feira, Cruz terá liderado uma revolta dos anti-Trump para tentar travar a nomeação do milionário. Mas acabou derrotado.
Criticado tanto pela ala moderada do partido por querer expulsar 11 milhões de imigrantes ilegais e querer banir os muçulmanos de entrarem nos EUA como pela ala mais conservadora, desconfiada das suas posições sociais liberais, Trump é também visto por alguns líderes mundiais como uma ameaça. Numa entrevista à Reuters, o chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, garantiu que o milionário, com a sua "política do medo e do isolamento", põe em causa a segurança dos EUA e do mundo.
Um dos objetivos da convenção é limpar a imagem de Trump, apresentando-o como um empresário de sucesso capaz de criar empregos para os americanos. E como um líder duro em tempos difíceis para a América. No seu discurso, o senador do Alabama Jeff Sessions chamou-lhe "um guerreiro e um vencedor". Menos convicto pareceu Paul Ryan. O presidente da Câmara dos Representantes, que quando em maio Trump obteve os delegados necessários à nomeação disse não estar "preparado" para o apoiar, afirmou que com o milionário na presidência a América tem "uma hipótese" de ter melhores resultados do que com Hillary. E acrescentou um fatalista: "A democracia é uma série de escolhas. Nós republicanos fizemos a nossa."
Purga na administração pública
No seu reality show The Apprentice, Donald Trump era conhecido por dispensar os concorrentes com um sonoro "Está despedido!". Se chegar à presidência, o milionário parece disposto a fazer o mesmo à maioria dos funcionários públicos nomeado por Barack Obama. A ideia foi apresentada na terça-feira à noite em Cleveland por Chris Christie, com o governador de New Jersey a explicar que um presidente Trump pedirá ao Congresso para aprovar legislação que facilite os despedimentos na função pública.
A proposta terá sido comunicada a um grupo de doadores numa reunião à porta fechada, mas a Reuters teve acesso às gravações do encontro. A agência noticiosa garante que a equipa de Trump está já a elaborar uma lista de funcionários do governo federal que serão afastados a partir de janeiro, quando toma posse o novo presidente.
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