Chefe do governo sudanês de volta ao cargo um mês após golpe militar
Menos de um mês depois de ter sido derrubado num golpe liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhan e colocado em prisão domiciliária, o primeiro-ministro do Sudão, Abdalla Hamdok, voltará a assumir o cargo. A decisão, fruto de um acordo com os militares, surge após semanas de protestos, que deixaram mais de 40 mortos, e forte pressão internacional.
Segundo um comunicado, a decisão do general "de afastar o primeiro-ministro da transição está cancelada". Hamdok era o rosto da transição para um governo civil e para a democracia, depois de protestos sem precedentes terem levado à queda do presidente Omar al-Bashir em abril de 2019, que estava no poder desde 1989. A 25 de outubro, no meio de tensão entre o governo civil e os militares, que ao abrigo de um acordo partilhavam o poder desde 2019, deu-se o golpe.
Hamdok apareceu agora ao lado do general Al-Burham, que tinha assumido a liderança do país, no palácio presidencial, numa cerimónia transmitida pela televisão. Ambos assinaram um acordo de 14 pontos, negociado com o apoio das Nações Unidas e da União Africana, que além do regresso do primeiro-ministro prevê a libertação dos presos políticos e o relançamento do processo de transição.
De aparência frágil, Hamdok, de 65 anos, elogiou a "revolução" popular que o levou ao governo e disse que a prioridade agora era "parar o derrame de sangue no Sudão antes de qualquer outra coisa". E concluiu: "Deixamos a escolha sobre quem governa o Sudão para o seu povo poderoso."
Por seu lado o general agradeceu ao primeiro-ministro, dizendo que ele foi "paciente", voltando a prometer a realização de "eleições livres e transparentes" como parte do processo de transição.
Mas depois de semanas de protestos, marcados pelo choque entre manifestantes e as forças de segurança que terá feito 40 mortos, o regresso de Hamdok não parece ser suficiente para acalmar as ruas. Milhares voltaram ontem a protestar, exigindo que os militares abandonem completamente o governo. "Não ao poder militar", gritaram os manifestantes, segundo a AFP. A polícia nega ter usado munições verdadeiras para dispersar os manifestantes, alegando recorrer apenas à "força mínima". Oficialmente, só houve um morto nos protestos.
O principal bloco civil que liderou os protestos anti-Bashir e que assinou o acordo de partilha de poder com os militares em 2019 rejeitou este acordo. "Afirmamos nossa posição clara e previamente declarada de que não há negociação, parceria, legitimidade para o golpe", disse a fação dominante das Forças pela Liberdade e Mudança. As Nações Unidas saudaram, contudo, o acordo, lembrando que é preciso proteger a ordem constitucional, assim como o direito de associação política e de reunião, além da liberdade de expressão.