Chamas fazem mais uma vítima

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Dezoito incêndios estavam ontem por circunscrever ao início da noite, depois de um dia em que as chamas fustigaram com violência o Norte e Centro do País. Em Pampilhosa da Serra, o fogo, a lavrar há três dias, cercava habitações e mobilizava mais de 300 bombeiros. Na Sertã, uma mulher morreu num incêndio que estava ainda por controlar. Hoje, as temperaturas vão descer e o risco máximo de fogo abrange apenas três distritos.

Em Palhais, no concelho de Cernache do Bonjardim, Sertã, uma enfermeira reformada morreu quando combatia as chamas de um fogo que, ao início da noite, estava longe de ser circunscrito.

Em Pampilhosa da Serra, o drama persiste. A evacuação de crianças e idosos da aldeia de Ceiroquinho, na margem esquerda do rio Ceira, é mais um triste acontecimento a registar ao terceiro dia de fogo. Três frentes descontroladas semeiam o medo. Espalhados pelas encostas, mais de 300 bombeiros, exaustos, fazem tudo para suster este gigantesco fogo alimentado pelo vento forte. O plano municipal de emergência foi activado à tarde.

Tudo se complica quando, a meio da tarde, as duas frentes mais activas se juntam na aldeia de Ceiroquinho. Algumas pessoas fogem, outras preferem ficar. Apesar do medo, Maria Josefina Ramos não quer fugir "Estamos cercados mas temos de defender o que é nosso", justifica. Passam poucos minutos das 16.00 e o ar é irrespirável.

As chamas estão a poucos metros das habitações. Os mais novos e sensíveis à inalação de fumo são transferidos por duas carrinhas da autarquia para as instalações do ATL da Pampilhosa da Serra. Ardem fios dos postes de alta tensão.

"Já arderam mais de 20 mil hectares", revela o autarca, Hermano Almeida. Também em Fajão os populares não arredam pé, querendo acudir, com tanques cheios de água e carrinhas prontas para o que for necessário. Em Vidual de Cima, ouvem-se gritos de gente aflita. Os bombeiros entopem a estrada. É de noite, apesar de os relógios marcarem 16.30 horas. Aos 14 anos, Susana Silva nunca viveu nada igual. Chora compulsivamente, nervosa. A sua casa em Vidual de Cima situa-se perto dos morros graníticos da Barragem do Cabril, onde a floresta arde. "Prefiro morrer aqui do que sair", diz. Esta aldeia, que se enche no Verão com pessoas de Lisboa cujas raízes estão aqui, fica agora suspensa no tempo. As férias são um pesadelo.

Os meios aéreos são ajuda preciosa nas encostas íngremes. De Espanha veio um Canadair. O fogo começou no sábado no Casal da Lapa, esteve dominado na madrugada de domingo mas o vento, a falta de humidade e os reacendimentos tornaram-no incontrolável.

O presidente da Câmara de Pampilhosa da Serra explicou ao DN porque accionou o plano municipal "Necessitamos de logística para salvaguardar pessoas e bens. E de bombeiros, técnicos da Santa Casa da Misericórdia, hospital e centro de saúde. Há ainda que acautelar o fornecimento de alimentação e combustíveis para o dispositivo no terreno." Ao fim do dia, o autarca percorria o palco do fogo para avaliar os riscos nas aldeias de Ribeiros, Lomba Senhora e Algar. "Felizmente, não ardeu nenhuma habitação permanente."

O grande incêndio que lavrava desde as 00.15 de terça-feira na aldeia de Burga, em Macedo de Cavaleiros, foi circunscrito às 16.40, disse ao DN fonte do Centro Distrital de Operações de Socorro de Bragança. Na operação de combate estiveram 122 bombeiros, 35 veículos e três meios aéreos. Dois bombeiros sofreram intoxicações mas estão livres de perigo. Arderam duas habitações e uma casa agrícola.

Uma moradora de Bornes, uma freguesia vizinha - pois em Burga as linhas telefónicas foram queimadas - contou que a mancha florestal está muito afectada e que foram destruídos campos de cultivo.

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