Chamadas pela Net vão revolucionar telefones fixos

Publicado a
Atualizado a

Efectuar chamadas telefónicas gratuitas para qualquer parte do mundo é já hoje uma realidade para muitos milhões de pessoas, equipadas com uma ligação de banda larga à Net e um software apropriado . A tecnologia que permite fazer isto tem um nome esotérico - VoIP, que significa Voz sobre Internet -, mas os seus resultados representam uma ameaça concreta para os operadores tradicionais de telecomunicações.

A pioneira de tudo isto foi uma empresa chamada Skype, fundada há três anos por dois engenheiros (um sueco e um dinamarquês). A possibilidade de efectuar chamadas à borla através de computadores atraiu 54 milhões de utilizadores e tornou a empresa num alvo apetecível na Bolsa norte-americana. O eBay, gigante dos leilões online, chegou-se à frente com 2,6 mil milhões de dólares em cash, num negócio que pode render ainda mais 1,5 mil milhões aos accionistas da Skype, se forem atingidos determinados objectivos.

A enormidade do investimento em si já impressiona, mas quando olhamos para a modesta facturação da Skype - 60 milhões de dólares por ano - percebe-se que o eBay não está a comprar uma empresa muito rentável está a pagar uma posição privilegiada num negócio promissor, capaz de pulverizar o mercado das telecomunicações.

Por cá, existem ainda poucos operadores com soluções de Voz sobre IP para o mercado residencial o VoIP Sapo (da Portugal Telecom), o IOL Talk (da Média Capital) e a Netcall, uma PME que foi também a primeira empresa portuguesa a disponibilizar o serviço. No seio de muitas organizações, porém, a rede que suporta a Internet é já muito utilizada para as suas comunicações internas, poupando assim custos em chamadas.

Manuel Castelo Branco, director-geral da Média Capital, não tem dúvidas de que esta tecnologia vai abanar os operadores tradicionais. "O nosso produto foi lançado em Julho e já ultrapassámos os objectivos fixados até ao final deste ano, que era atingir os 20 mil utilizadores", sublinha. "Neste momento, um milhão de portugueses já têm uma ligação de banda larga e achamos que o VoIP será rapidamente massificado", acrescenta. As suas estimativas apontam para a existência de 40 mil utilizadores no final do ano, 250 mil em 2006 e 600 mil em 2008.

Ao contrário do IOL Talk, cuja solução tecnológica foi desenvolvida por estrangeiros, o VoIP Sapo foi criado por massa cinzenta nacional - tanto pelas empresas da PT como pela Critical Software. Os serviços têm algumas diferenças entre eles (ver texto em baixo), mas, neste caso, não deixa de ser curioso verificar que a PT, cuja principal fonte de receitas ainda é as chamadas feitas na rede fixa, ofereça aos utilizadores do Sapo Messenger uma forma de falar sem custos.

"São coisas diferentes", começa por dizer José Carlos Baldino, director- geral do Sapo. "O VoIP só faz sentido para quem tem banda larga e o grupo PT é líder nesse segmento, ou seja, mesmo que se perca num lado, ganha-se no outro", sublinha. Os grandes operadores mundiais estão a seguir a mesma lógica, mas uma interrogação permanece será que compensa? "Não sei se uma situação compensa a outra, mas a PT não pode deixar de ter esta oferta, porque existem operadores de todo o mundo a concorrer globalmente", remata aquele responsável.

A outra escala, também a Netcall vai concorrer neste mercado. Tratando-se de uma PME, com 30 trabalhadores e sem uma rede própria, o seu serviço baseia-se num software semelhante ao da Skype - desenvolvido pela Netcall - e na gestão das chamadas. "A única diferença é que a Skype só funciona com um computador, ao passo que o nosso serviço pode ser utilizado com um adaptador para os telefones tradicionais ou um telefone VoIP de raiz", explica o administrador Vítor Magalhães. Esta semana, a empresa apresentou uma parceria com a Linksys (uma divisão da Cisco) que lhe permitirá oferecer serviço de voz nos telefones normais. Por incrível que pareça - e aqui reside o grande perigo para as grandes telecoms -, por preços muito mais baixos que qualquer operador já estabelecido.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt