Centro de formação Cesae teste a norte o 'Espaço Cidadania Digital'
Com mais de 30 anos de experiência como centro de serviços e apoio às empresas, o Cesae "renasceu", em 2020, como Cesae Digital, um espaço exclusivamente dedicado ao desenvolvimento das competências digitais, que integra a rede de centros de gestão participada do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Só em 2021, foram ministrados mais de 500 cursos que abrangeram mais de oito mil formandos. Mais de metade são mulheres e a taxa de empregabilidade é de quase 80%. Em 2023, arranca o projeto-piloto "Espaço Cidadania Digital" que pretende ser o primeiro contacto do cidadão com as competências digitais.
"Não vale a pena focarmo-nos na transformação digital da Administração Pública e das empresas se uma grande percentagem da população portuguesa não tem qualquer contacto com as tecnologias nem está capacitada para usar as plataformas digitais. Quantas pessoas não conseguem fazer a sua entrega da declaração de IRS online, a marcação de uma consulta ou a verificação, no portal do SNS24, das suas vacinas?", questiona o presidente do Cesae Digital, Luís Manuel Ribeiro. É para dar resposta a esta necessidade, de dar a cada português um nível de proficiência digital básico, pelo menos, que vão nascer os chamados "Espaço Cidadania Digital", que irão ser testados, numa primeira fase, nos municípios da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, uma das regiões com mais baixas qualificações no país. A intenção é testar vários modelos de funcionamento, designadamente com monitoria, mas também em regime de autoestudo, e com horários diversos, incluindo abertura ao fim de semana, de modo a ir de encontro às necessidades diferenciadas da população.
Mas o centro procura também desenvolver os planos de formação - a oferta do centro é variada, desde a formação inicial para jovens, aos cursos de formação e educação para adultos, sem esquecer a chamada formação on job, ou seja, em ambiente de trabalho - de acordo com as necessidades do mercado e das empresas, que conhece bem quer pela rede de entidades com as quais trabalha, quer pelo acordo de parceria que tem com a Associação Empresarial de Portugal (AEP).
CitaçãocitacaoDiversidade de género: A informática e as tecnologias de informação são, tradicionalmente, áreas procuradas maioritariamente por alunos masculinos, mas 57% dos formandos do Cesae Digital são já mulheres. A idade média é de 30 anos
Para o presidente do Cesae Digital, a requalificação profissional constitui "a resposta mais rápida" às necessidades de recrutamento das empresas e, por isso, o centro criou, há cinco anos, o #DigitalReskilling, o programa de requalificação e integração profissional nas áreas digitais, que formou já 800 pessoas em áreas tão distintas como o desenvolvimento de aplicações móveis, a programação, a cibersegurança ou a gestão de redes.
Convicto de que as universidades não estão a conseguir colocar no mercado jovens licenciados em número suficiente para as necessidades das empresas, Luís Manuel Ribeiro advoga a urgência do trabalho de requalificação dos ativos já existentes, seja através da educação e formação de adultos, de cursos de formação modulares, de iniciativas como o #DigitalReskilling ou de ações de formação dentro das próprias empresas, de modo a que uma evolução tecnológica no sistema produtivo não implique a necessidade de contratar novos trabalhadores. "É a forma de assegurar que um trabalhador que já integra a cultura da empresa pode adquirir as competências digitais necessárias e assim manter o seu posto de trabalho", defende.
Citaçãocitacao Foco nas empresas: A rede de parcerias estabelecida com empresas e com a Associação Empresarial de Portugal permite desenhar o plano de formação à medida das necessidades de recrutamento do mercado.
Requalificação profissional
Os cursos do #DigitalReskilling, oito a dez por ano, são direcionados para desempregados que queiram reorientar a sua atividade profissional. Ou seja, para pessoas que não conseguem encontrar uma oportunidade de carreira dentro do que foi a sua formação inicial. Mais de metade dos formandos têm o ensino superior, em áreas completamente distintas das tecnologias de informação.
Filomena Teles é um desses exemplos. Licenciada em Biologia e com o mestrado em Ciências Forenses, percebeu, ao tentar entrar no mercado de trabalho, que as comunicações tecnológicas e informáticas eram "bastante apetecíveis" para a sua área de trabalho. Iniciou, então, um Curso de Especialização Tecnológica de Redes Informáticas, tendo o seu primeiro contacto com a programação. Seguiu-se, no âmbito do #DigitalReskilling, o curso de Web e Mobile Development que, diz, é "uma ótima rampa de lançamento para a entrada no tão desejado mundo do trabalho".
CitaçãocitacaoPPR: Cesae Digital tem um projeto de quatro milhões de euros aprovado no PRR para a instalação, em Santo Tirso, do primeiro pólo de formação profissional na área das competências digitais descentralizado do país. Terá 18 salas de formação e cinco laboratórios, com capacidade para 400 formandos
E Luís Manuel Ribeiro garante que o centro e os seus formandos são procurados não apenas pelas grandes tecnológicas, mas por empresas de todas as áreas e dimensões. Até porque, com o avanço da digitalização e da Indústria 4.0, "qualquer empresa, de qualquer setor, tem hoje um departamento de informática e necessidade de quadros qualificados e capacitados nesta área". O objetivo, diz, é que "ninguém fique para trás nesta transformação digital".
ilidia.pinto@dinheirovivo.pt