Centro de Documentação do Teatro Nacional São João assinala oito anos

O Centro de Documentação do Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, assinala em novembro oito anos de existência, com a expectativa de ser um contributo para a criação de melhor teatro na cidade.
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O Centro de Documentação do TNSJ abriu ao público em 2009 e integra uma biblioteca e um arquivo relacionado com a produção própria, instalado no Mosteiro de São Bento da Vitória.

Foi idealizado mais cedo, em 2000, mas só a 11 de novembro de 2009 ganhou face visível, com a biblioteca, aberta ao público de segunda a sexta-feira entre as 14:30 e as 18:00, numa sala do Mosteiro São Bento da Vitória, e um arquivo de material relacionado com a produção própria e programação do TNSJ, acessível por pedido.

"O público que nos procura são essencialmente criadores, estudantes, professores, e pessoas do teatro amador, um mundo um bocadinho subterrâneo mas bastante interessante aqui na área", contou à Lusa Paula Braga, que desde o início é responsável pelo projeto.

Na biblioteca "há de tudo, de peças de teatro a ensaios, enciclopédias, e a assinatura de cerca de 15 revistas internacionais" relacionadas com as artes performativas, e ainda uma publicação nacional, a Sinais de Cena.

Além do material de leitura, também estão disponíveis vários filmes de teatro ou realizados a partir de peças de teatro, além de documentários e filmes de dança.

Para lá da biblioteca, que engloba cerca de 6.000 peças de teatro, de traduções para português e na língua original, o Centro de Documentação, cujo interior foi desenhado pelo arquiteto Nuno Lacerda Lopes, foca-se ainda no arquivo do material relacionado com a produção própria e a programação ao longo dos anos do TNSJ, que é "outro foco de interesse despertado nas pessoas".

O espólio inclui dossiês fotográficos, centenas de textos cénicos, gravações e fotografias de ensaios e récitas, além de vários cartazes e outro material gráfico, uma "componente importante" do arquivo, tudo disponível para consulta mediante pedido.

Comparado com outras bibliotecas de teatro do país, como a do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, que é "muito mais antiga", entre outras, o que distingue o Centro de Documentação é ter nascido "tendo sido pensado como um todo".

"Foi pensada de raiz e, nesse sentido, é uma biblioteca muito mais completa. Tive muita liberdade na criação da biblioteca", apontou a responsável, que vê o "crescimento obrigatório", com livros novos todos os meses, como algo que "já apresenta problemas ao espaço".

Os números mais antigos das revistas foram transportados para o arquivo, assim como vários livros, até porque o centro acolhe os legados de José Wallenstein, Ricardo Pais ou Nuno Carinhas, diretores artísticos do TNSJ, além de "cerca de mil livros" do antigo professor universitário e encenador Paulo Eduardo Carvalho, que morreu em 2010.

"O nosso problema é estarmos a crescer tanto", afiançou Paula Braga, que diz receber gente "todos os dias", além de pedidos por e-mail ou telefone, e que os novos alunos que todos os anos entram nas quatro escolas de teatro da cidade se transformam, muitas vezes, em novos leitores.

Uma das atividades mais conhecidas do espaço é o ciclo Leituras no Mosteiro, iniciado em 2010, no qual os participantes são convidados a partilhar a leitura de uma peça de teatro com um convidado, de encenadores a atores, entre outros.

Ao longo de sete anos, já contou com mais de 120 sessões e abordou mais de 200 peças de teatro, com quase sete mil participantes ao todo.

Paula Braga confessou que não imaginava que tivessem tanta afluência, com "cerca de 40 a 50 pessoas" na maior parte das leituras, número que já chegou aos 100 participantes, sendo que as razões do sucesso "são um mistério".

"O que me surpreende mais é a duração no tempo, já vamos nisto há sete anos. Pensei que se ia esgotar num ou dois anos. Porque é algo exigente, com três horas ou mais, em que o público deve participar", acrescentou.

Um dos destaques, além das normais leituras, sempre na terceira terça-feira de cada mês, é a apresentação do livro "Ensaios Ruminantes. Sobre a Obra Performativa de Patrícia Portela", uma coleção de ensaios sobre o trabalho de Patrícia Portela, marcado para 27 de novembro.

Na opinião da responsável, o trabalho levado a cabo no centro, dos eventos ao esforço de arquivo, "é muito bom", e "se calhar não há muitas bibliotecas assim, especializada e com a visibilidade e fluxo de gente que passa".

Quanto a um balanço do trabalho desde a abertura, "é mais difícil de dizer", mas Paula Braga aponta a melhoria do teatro na cidade, principalmente desde "há 30 anos, quando as primeiras escolas de teatro abriram na cidade", com o centro a ter alguma influência na evolução.

"Eu quero pensar que, de alguma forma, o Centro de Documentação contribuiu para que se fizesse melhor teatro na cidade", rematou.

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