Em vida, não chegava ao metro e meio de altura - tal como não chegou aos 50 anos. Na morte, o seu discreto jazigo, no cemitério Père Lachaise, também não tem grande espaço para deixar respirar quem tanto cantou. Só as iniciais EP tornam clara a presença que as indicações "Família Gassion-Piaf" ou "Madame Lamboukas" poderiam puxar para o domínio da dúvida: ali jaz, mesmo, a maior cantora de sempre da música popular francesa, a partir de hoje presença centenária..[youtube:Q3Kvu6Kgp88].Com batotas, mais ou menos ingénuas, do princípio ao fim da vida: Edith Giovanna Gassion terá realmente nascido a 19 de dezembro de 1915, recebendo o nome próprio em homenagem a uma enfermeira inglesa fuzilada dias antes pelos alemães, em plena I Guerra Mundial. O local é que se torna objeto de controvérsia: Edith passou aos seus biógrafos a certeza de que viu a luz do dia no número 72 da rua Belleville, 20º bairro de Paris. Em casa, portanto. Parece, no entanto, que o seu parto consta entre os registos de nascimentos do hospital Tenon, bastante próximo do domicílio dos pais da Piaf. Mas nascer em casa teria a sua importância para uma cantora popular... Já na morte, a história é outra: Piaf morreu fora de Paris a 10 de outubro de 1963, mas os seus próximos conseguiram o clandestino transporte do corpo para a casa parisiense do número 67 do Boulevard Lannes. Afinal, quem cantou Les Amants de Paris, Le Chevalier de Paris, Sous Le Ciel de Paris e tantas outras peças emblemáticas para uma cidade que não dispensa símbolos e referências, não dava jeito nenhum ir morrer longe..Da miséria à tragédia.Os primeiros anos de Piaf devem ter deixado marcas psicológicas para durar várias vidas: filha de um saltimbanco e de uma cantora de bas-fonds, a pequena Edith aparece ora disputada ora rejeitada por vários tipos de parentes, com os pais, uma avó e uns tios metidos ao barulho. Guardou na memória a fase em que viveu num bordel e em que as "tias" e "madrinhas" eram as próprias prostitutas. Que, para a lenda, ficaram com os louros da "salvação" da vista da menina que, aos sete anos, vítima de uma infeção que a deixou temporariamente cega, acabou por se curar depois de uma visita ao túmulo de Santa Teresa de Lisieux, romagem promovida pelas senhoras ditas de "vida fácil". Cedo a Piaf se habituou a cantar na rua, em cafés e, sobretudo, na rua..Leia mais na edição impressa ou no e-paper do DN