Os números oficiais de portugueses nos Estados Unidos são irreais e, por isso, os censos americanos de 2020 estão a ser vistos como uma oportunidade para aproximar as estatísticas à realidade e assim a comunidade ganhar mais peso social e político no país. Porque há a consciência de que quantos mais forem, mais valorizados serão: a língua portuguesa poderá alcançar mais reconhecimento como necessidade educativa nas escolas e nas universidades e os portugueses poderão também ganhar mais representação política..São estas algumas das razões que motivaram a campanha Make Portuguese Count (Faça com que os portugueses contem), que está a decorrer junto da comunidade nos Estados Unidos para sensibilizar os portugueses a escreverem a sua origem no próximo questionários dos censos de 2020. O secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, também já gravou um vídeo..A PALCUS, uma associação de promoção dos portugueses nos EUA, está a dinamizar a campanha e, se tiver eco, uma comunidade que agora é apresentada como sendo constituída por 1,36 milhões de pessoas poderá disparar. Só na Califórnia, onde oficialmente vivem 350 mil portugueses, os números devem ultrapassar o milhão, exemplifica o vice-presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas, o realizador Nélson Ponta-Garça. Depois ainda há os estados do Massachusetts e Rhode Island, onde vive uma grande comunidade lusa. Arrisca dizer que os números podem ser superiores a quatro milhões..Desde 2000 que os censos americanos não permitem que os portugueses digam qual a sua origem - esta foi a última vez que a questão da ancestralidade foi incluída no questionário que se realiza de dez em dez anos. "Em 2010, não havia nenhuma questão de ancestralidade - apenas a questão da 'raça' para brancos, negros/afro-americanos, asiáticos, americanos nativos, hispânicos e outros. Para ser contado como português, tivemos de marcar 'outros' e escrever português nessa opção. A maioria dos portugueses não sabia que tinha essa possibilidade. Desta vez, a opção será mais clara no questionário: verifique a sua raça e escreva as suas origens abaixo", adianta a associação..Nélson Ponta-Garça considera importante a campanha, mas não deixa de lamentar que não se tivesse conseguido junto do Departamento dos Censos que o português aparecesse como uma das opções em que só seria necessário fazer a cruz no quadradinho. "É difícil, mas devíamos ter apontado para isso", diz ao DN.Se o número de portugueses e lusodescendentes e luso-americanos nos EUA disparar depois dos censos do próximo ano, esse resultado poderá trazer benefícios para a comunidade portuguesa ao nível de financiamento federal nas regiões onde vivem. "Quando podemos mostrar o quanto somos numerosos nas nossas cidades, condados e estados, podemos fortalecer a nossa voz em assuntos que são importantes, como o ensino da língua portuguesa nas escolas públicas", refere ao DN a PALCUS (Conselho de Liderança Luso-Americano dos Estados Unidos), cuja missão é ser a voz na defesa e promoção da comunidade luso-americana em termos económicos, profissionais, culturais e políticos..Maior representação política.Há também a questão da representação política. A PALCUS refere a este propósito que o censo determina os limites das circunscrições e o número de eleitos de cada estado na Câmara dos Representantes no Congresso. Os estados de Nova Iorque e de Rhode Island, por exemplo, com grandes comunidades luso-americanas, correm o risco de perder assentos no Congresso devido à diminuição da população. Mas, além disso, os representantes querem saber quantos portugueses americanos vivem realmente nos seus distritos. "Isso é também importante porque os estudos mostram que os luso-americanos votam nas eleições dos EUA a uma taxa 20% superior à média americana."."É muito importante fazer a consciencialização da comunidade para votar nos EUA", afirma Ponta-Garça, lembrando que muitos portugueses emigraram no tempo da ditadura e não tinham o hábito de votar..Hispânico? No, I'm portuguese.Há ainda outra questão premente para sensibilizar os portugueses a identificarem as suas origens nos censos do próximo ano: o facto de serem muitas vezes considerados hispânicos com o argumentário de que são oriundos da Península Ibérica. No entanto, numa sondagem realizada pela PALCUS com Dulce Soares Scott, em 2013, mais de 83% dos entrevistados responderam que não se consideravam hispânicos e também não se identificaram como hispânicos no questionário dos censos americanos..Um número realista da comunidade portuguesa nos EUA poderá igualmente mudar a forma como as autoridades nacionais olham para a diáspora, considera Nélson Ponta-Garça. Embora considere positivo a ida do Presidente da República e do primeiro-ministro aos Estados Unidos nas comemorações do 10 de Junho de 2018 e do presidente do governo regional dos Açores já em 2019..No entanto, afirma, há problemas que persistem, como a falta de recursos humanos nas redes consulares, o ensino da língua portuguesa e os transportes aéreos com ligação direta a Portugal.